Em 2025, a vencedora do Prêmio Mundial de Alimentação (World Food Prize), oferecido pelos Estados Unidos, foi uma agrônoma brasileira: Mariangela Hungria (67), que desenvolve pesquisas na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
O prêmio, considerado o "Nobel da Agricultura", é oferecido a pessoas com contribuições relevantes para a melhoria da qualidade e disponibilidade de alimentos. Três brasileiros já o receberam antes: em 2006, os agrônomos Edson Lobato e Alysson Paulinelli, por seus estudos sobre a agricultura do cerrado; e, em 2011, o próprio presidente Lula, por seu combate à fome durante o segundo mandato: entre 2001 e 2011, a renda dos 10% mais pobres cresceu 91,2% no Brasil, que foi oficialmente retirado do Mapa da Fome da ONU em 2014.
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A brasileira agraciada com a premiação em 2025, Mariangela Hungria, tem sua pesquisa voltada à produtividade de culturas e ao desenvolvimento otimizado de sementes sem a necessidade de empregar fertilizantes químicos.
De acordo com um Estudo Estratégico sobre a agricultura brasileira, o Brasil é responsável por cerca de 8% do consumo global de fertilizantes (o quarto lugar no mundo, atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos). No entanto, mais de 80% dos fertilizantes consumidos no país têm origem estrangeira, "a despeito da existência de grandes reservas de matérias-primas em seu território".
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A necessidade de investimento no setor passa também pelo desperdício, estimado em 40%, no uso de fertilizantes no Brasil.
De acordo com a BBC, os produtos desenvolvidos por Hungria já foram utilizados em mais de 40 milhões de hectares de culturas brasileiras, o que gerou uma economia correspondente de US$ 25 bilhões (ou R$ 127,5 bilhões) anuais em insumos.
Hungria se destacou por pensar em alternativas biológicas ao uso de fertilizantes químicos, agrotóxicos e sementes geneticamente alteradas. Para isso, dedicou-se a estudar a função da fixação biológica de nitrogênio, que ocorre quando bactérias convertem o nitrogênio do ar em compostos absorvíveis pelas plantas.
Uma alternativa que não envolvesse a fixação orgânica do nitrogênio poderia ser muito mais dispendiosa e poluente: com o uso de fertilizantes químicos, seriam necessários cerca de seis barris de petróleo para cada tonelada de nitrogênio produzido, aponta Hungria.
Além disso, o nitrogênio é um dos gases causadores do efeito estufa e, a cada 1 kg de nitrogênio, são lançados à atmosfera cerca de 10 kg de CO2.
A microbiologista e agrônoma estudou bactérias como os rizóbios, capazes de interagir com raízes de culturas leguminosas por meio de inoculantes, produtos biológicos que contêm microrganismos que substituem a função dos fertilizantes. Isso melhorou em em até 8% a produtividade das culturas em comparação àquelas que fazem uso dos sintéticos.
Hungria também foi a primeira a formular para uso comercial a bactéria Azospirillum brasilense, que contribui com a produtividade de culturas leguminosas como o feijão e a soja, hoje os carros-chefes das exportações brasileiras.
Professora da Universidade Estadual de Londrina e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, Hungria também recebeu, em março de 2025, o Prêmio Mulheres e Ciência, oferecido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do qual foi pesquisadora bolsista durante anos.
Atualmente, embora o Brasil seja um dos países que mais usam bioinsumos no mundo, eles ainda representam apenas 10% em relação aos insumos químicos, e 85% deles são importados.
"Falta investir mais em pesquisa e em indústrias", diz ela à BBC, "para diminuir nossa dependência e o Brasil alcançar a agricultura que a gente sonha: de alta produtividade, mas cada vez mais sustentável".