Defesa de Evaldo diz que condenação de militares foi “um alívio”: “Fuzilamento injustificável não pode ser tolerado”

Para o advogado, julgamento é histórico; mais de 257 disparos foram realizados contra o carro em que estava o músico e a família, matando também o catador de recicláveis Luciano Macedo

Evaldo Rosa e Luciano Macedo foram mortos por militares Foto: Reprodução
Escrito en BRASIL el

O advogado da família de Evaldo Rosa e assistente de acusação, André Perecmanis, afirmou à Revista Fórum que recebeu "com alívio" a condenação pela Justiça Militar de oito dos 12 responsáveis pelas mortes do músico e do catador de materiais recicláveis Luciano Macedo. "Foi muito importante por termos visto que o Exército e a Justiça não compactuam com esse tipo de ação, e que o fuzilamento injustificável de duas famílias não pode jamais ser tolerado", disse.

Para Perecmanis, o processo é histórico, já que a condenação de militares pela morte de civis é rara. "Em um momento como o atual, nós vermos a Justiça Militar, as Forças Armadas, repudiando uma ação como essa, é muito importante para a defesa da democracia", pontuou.

O julgamento durou mais de 15 horas e quatro oficiais, que não dispararam suas armas no dia do crime, foram absolvidos. Na avaliação do advogado, a decisão foi correta, já que tanto o Ministério Público quanto as vítimas pediam isso. "O que se almejava não era vingança, mas sim justiça", afirmou. Todos foram absolvidos por omissão de socorro.

Defesa dos militares tentou culpar catador de recicláveis

A defesa dos militares afirmou que vai recorrer da decisão. Em um momento da audiência, decidiu, inclusive, adotar nova estratégia para tentar livrar os agentes de condenação por homicídio, acusando o catador Luciano, que tentou ajudar o músico e acabou morrendo com os disparos, de ter sido o responsável pela morte do músico.

Com argumentos contraditórios, a defesa sugeriu que Luciano era olheiro do tráfico, que traficantes teriam matado Evaldo e, por fim, que o tiro teria partido do catador. Essas teses, no entanto, foram apresentadas sem provas e contrariam a perícia realizada no local.

"É uma questão de racismo que afeta o catador Luciano. Uma pessoa que, por um gesto de humanidade, foi socorrer o músico e recebeu como prêmio pelos militares um fuzilamento pelas costas. A defesa sustentou sem qualquer prova que ele seria um dos assaltantes do roubo anterior. Inacreditável", afirmou Perecmanis.

Segundo ele, a defesa continuará lutando no tribunal para que a condenação seja mantida. Apesar da decisão tecnicamente ser "perfeita" na visão dele, é importante que a sociedade continue acompanhando o caso de perto. Agora, abre-se um prazo de cinco dias para a apelação da defesa, contados a partir da data de intimação da sentença ou da sua leitura em audiência pública, na presença das partes ou seus procuradores.

Após a juíza receber a apelação, será aberta a vista aos autos. Em seguida, é aberto um prazo de dez dias para ambos os lados. O Superior Tribunal Militar avalia o caso e depois é a vez do procurador-geral, do relator e do revisor. Os acusados continuam em liberdade até a decisão final do Superior Tribunal Militar (STM).