Após transe comemorativo, Michelle Bolsonaro se diz vítima de intolerância religiosa

Primeira-dama não gostou da repercussão negativa após festejar “falando em línguas” a aprovação do André Mendonça para o STF e disse que há muito “desamor”. Dona da conta em que Queiroz depositava cheques ainda citou passagem bíblica

André Mendonça e Michelle Bolsonaro após sabatina no Senado. Foto: Reprodução/Twitter
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A primeira-dama Michelle Bolsonaro não gostou nada da repercussão negativa nas redes sociais de sua comemoração em transe à nomeação de André Mendonça para STF, depois de dar pulinhos, gritar, chorar e falar coisas numa língua incompreensível.

"Usarei 1 Coríntios 2:10-14 para responder à intolerância religiosa e o desamor de muitos a meu respeito, por celebrar a vitória do meu irmão em cristo André Mendonça", escreveu no Instagram a mulher que recebia depósitos em cheque de Fabrício Queiroz, PM aposentado que é apontado pelo Ministério Público como o operador do esquema de “rachadinhas” (peculato) nos gabinetes da família Bolsonaro.

"Ora, o homem natural não compreende as coisas do espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente", diz o trecho bíblico mencionado por Michelle, referindo-se provavelmente ao fato de ter sido vítima de deboche nas redes ao utilizar o que os neopentecostais chamam de “falar em línguas”, uma suposta intervenção do Espírito Santos. No entanto, o fenômeno é tecnicamente chamado de glossolalia, que no dicionário é descrito como um distúrbio psiquiátrico.

Comemoração exagerada de Michelle

Parece que o discurso de defesa ao Estado laico feito pelo novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça durou pouco. Um vídeo gravado no seu gabinete logo após ser aprovado em sabatina no Senado, na última quarta (1°),  mostra pessoas reunidas para comemorar agradecendo fervorosamente a Deus.

Uma das que mais chama a atenção é Michelle Bolsonaro. “Terrivelmente evangélica”, a esposa do presidente Jair Bolsonaro (PL) dá pulinhos, chora e recita palavras que, segundo os evangélicos neopentecostais, são uma manifestação do Espírito Santo. 

Ela também abraça Mendonça e os familiares do ex-AGU dizendo “obrigada, Jesus” e “obrigada, meu Deus”. “Glória a Deus”, complementa o novo ministro.

Pastor, Mendonça contou com o lobby entusiasmado da primeira-dama, que é evangélica e foi até o Senado para comemorar o fim da votação mais apertada para condução de um ministro ao STF dos últimos tempos – o placar no plenário foi de 47 votos a favor e 32 contra.

Nomeação de André Mendonça

A aprovação do nome de André Mendonça para vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) foi confirmada pelo Plenário do Senado quarta-feira (1). O placar da votação foi 47 a favor e 32 contra.

O “terrivelmente evangélico” Mendonça, de 48 anos, já tinha sido aprovado mais cedo pela Comissão de Constituição e Justiça da Casa. O placar na CCJ foi 18 sim, 9 não, nenhuma abstenção, em um total de 27 senadores que votaram.

O ex-titular da pasta da Justiça foi indicado por Jair Bolsonaro (PL) e vai ocupar a vaga de Marco Aurélio Mello, que se aposentou da Corte. Para se tornar ministro, Mendonça precisava ser aprovado pelo Plenário do Senado, o que acabou ocorrendo.

Durante a sabatina, o advogado minimizou o fato de ter recorrido à Lei de Segurança Nacional (LSN) para prejudicar servidores que se colocam como “antifascistas”, contrários às políticas do governo federal.

Ele afirmou que “jamais” agiu “com o intuito de perseguir ou intimidar” quando requisitou abertura de inquéritos contra críticos do presidente, quando era ministro da Justiça. O ex-ministro foi questionado pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE).

Todos nós somos antifascistas”, disse ele, por mais paradoxal que possa parecer. Afinal, ele recorreu à LSN, criada na ditadura militar.

Essa lei, felizmente, já foi revogada pelo Congresso e previa crimes contra a “ordem política e social”, entre eles “caluniar ou difamar o presidente da República” e os mandatários dos outros poderes “imputando-lhes fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação”.

Mendonça tentou se justificar, dizendo que agiu “em estrita obediência ao dever legal”. “Assim sentindo-se o presidente da República ofendido em sua honra por determinado fato, o que significa a análise individual de a pessoa por si própria sentir-se subjetivamente ofendida em sua honra, devia o ministro da Justiça instar a Polícia Federal para apurar o caso, sob pena de, não fazendo, incidir em crime de prevaricação”, disse.