Atos antidemocráticos: Jornal Nacional revela que PF quis aprofundar investigações e PGR pediu arquivamento

“Objetivo: materializar a ira popular contra os governadores/prefeitos; fim intermediário: saiam às ruas; e fim último: derrubar os governadores/prefeitos”, diz bilhete encontrado na casa do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos

Allan dos Santos - Foto: Reprodução/Twitter
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O Jornal Nacional deste sábado (5) apresentou ampla reportagem questionando a conduta da Procuradoria-Geral da República (PGR). O telejornal da Rede Globo mostrou que a Polícia Federal (PF) tentou junto à PGR que as investigações do inquérito dos atos antidemocráticos fossem aprofundadas.

Porém, a PGR não fez muito esforço para apurar e demorou cinco meses para se manifestar. Para piorar, na sexta-feira (4), pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o arquivamento do caso.

As investigações buscam encontrar provas sobre o financiamento e a organização de manifestações contra a Corte e o Congresso, além de defender o AI-5, ocorridas em abril de 2020 passado. Parlamentares e blogueiros bolsonaristas são alvos de investigação.

Ao solicitar o arquivamento, o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, justificou a decisão dizendo que as investigações da PF não conseguiram apontar a participação dos deputados e senadores nos supostos crimes investigados.

A TV Globo teve acesso a documento que atesta que o relatório parcial da PF foi liberado para a PGR no dia 4 de janeiro. Porém, não foram realizadas investigações por parte da Procuradoria.

No relatório parcial, assinado pela delegada da PF Denisse Ribeiro, ela diz que vê “justa causa” para aprofundar investigações, mesmo diante de “lacunas” na apuração.

“Apesar de a Polícia Federal não ter conseguido utilizar determinados meios de obtenção de prova (busca e apreensão, acesso ao conteúdo obtido pela CPI, por exemplo) para completar lacunas em alguns eventos e também para verificar a consistência e subsistência de algumas das hipóteses criminais apresentadas, observa-se que há justa causa para aprofundamento desses fatos, não necessariamente dentro do presidente inquérito situação que deverá ser avaliada pelo ex. sr. ministro relator”, afirma Denisse.

O relatório apontou, ainda, que foi verificada a tentativa de um empresário e do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, de comprar ou alugar uma rádio para fortalecer apoios políticos.

“Uma articulação de Otávio Fakhoury - empresário - com o deputado federal Eduardo Bolsonaro, do PSL, no intuito de adquirirem ou alugarem uma rádio com o fim de possuírem, um canal de mídia tradicional para a difusão do ideal conservador”, diz.

A PF realizou inúmeros cruzamento de dados, que mostram a relação de empresários, políticos e apoiadores do governo. Uma das linhas de investigação é detectar se ocorreu repasse do governo federal para sites e outros canais bolsonaristas atacarem as instituições, como o STF e o Congresso.

Allan dos Santos

Além de solicitar o arquivamento, a PGR pediu que seis investigações contra pessoas sem foro privilegiado fossem encaminhadas à primeira instância.

Investigadores ouvidos pela TV Globo classificaram o pedido de prematuro. Eles alegam que ainda há fatos a serem apurados e podem atingir autoridades com foro na Justiça.

Entre os casos que podem ir para a primeira instância está o do blogueiro Allan dos Santos, do canal bolsonarista Terça Livre.

A PF pediu uma nova investigação para aprofundar se houve articulação na CPI das Fake News para evitar a convocação de um sócio do blogueiro.

De acordo com a PF, em um grupo de aplicativo de mensagens (chamado de Conselheiros TL) os participantes tentaram convencer a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) a derrubar a convocação e, por consequência, o depoimento.

As apurações indicam que Barbosa é sócio e membro do conselho administrativo do Terça-Livre, além de pessoa que paga contas de Allan dos Santos.

O bilhete

A PF defende, também, uma apuração de possíveis conexões do blogueiro com a área de comunicação do governo federal.

E menciona um bilhete encontrado na casa de Allan, que oferece subsídios para a PF afirmar “que há indicativo de que a citada articulação de Allan dos Santos transcende a mera difusão de ideias. Itens do material apreendido (manuscrito) na residência de Allan dos Santos expõe as seguintes ideias: 'objetivo: materializar a ira popular contra os governadores/prefeitos; fim intermediário: saiam às ruas; e fim último: derrubar os governadores/prefeitos’, convergentes com o escopo do presente inquérito policial'".

https://twitter.com/SamPancher/status/1401327286557810699

Com informações do G1