Em campanha antecipada, Bolsonaro volta a erguer criança fazendo "arminha" com as mãos

Na última semana, comitê da ONU pediu punição do presidente brasileiro por usar criança com arma de brinquedo para se promover politicamente

Bolsonaro ergue criança que faz gesto de arma com as mãos (Reprodução)
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Em mais um gesto de campanha antecipada marcado por seu habitual populismo, o presidente Jair Bolsonaro, sem agenda oficial, foi passear em Peruíbe, no litoral paulista, neste sábado (9), e tentou passar a imagem de "humilde" ao comer pastel com caldo de cana em um barraca e almoçar em um restaurante self-service.

Como de praxe, o chefe do Executivo, sem máscara, causou aglomerações com apoiadores, sem qualquer intervenção da Polícia Militar, que acompanhou tudo de perto, postou para fotos e desfilou em carro com teto solar.

Em dado momento em que estava aglomerado com bolsonaristas, o presidente colocou uma criança em seus ombros. O menino estava fantasiado de militar e fazia gesto imitando uma arma com as mãos - sinal que se tornou uma marca de Bolsonaro e seus apoiadores.

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Assista à cena.

https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1446920205117149184

ONU pede punição

Na última terça-feira (5), o Comitê dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu uma declaração em que condena a exibição de uma criança vestida de policial militar, armada, por Jair Bolsonaro em evento na última semana em Belo Horizonte (MG).

"O comitê condena com veemência o uso de crianças pelo presidente Bolsonaro, vestidas com trajes militares e com o que parece ser uma arma de fogo, para promover sua agenda política, mais recentemente em 30 de setembro de 2021", diz um trecho do comunicado.

“O Brasil é um Estado parte tanto da Convenção quanto de seu Protocolo Opcional sobre o envolvimento de crianças em conflitos armados, e tem a obrigação de garantir que as crianças não participem de hostilidades ou de qualquer atividade relacionada a conflitos. A circulação de imagens de tais crianças perpetua ainda mais os danos a elas causados e corre o risco de contribuir para a falsa percepção de que o uso de crianças em hostilidades é aceitável”, prossegue.

A declaração lembra que a participação de crianças em hostilidades é explicitamente proibida pela Convenção sobre os Direitos da Criança (Artigo 38) e seu Protocolo Opcional sobre o envolvimento de crianças em conflitos armados (Artigos 1 e 4).

“Isso inclui o uso de crianças em quaisquer atividades relacionadas com conflitos e a produção e disseminação de imagens de crianças envolvidas em hostilidades reais ou simuladas. Tais práticas devem ser proibidas e criminalizadas e aquelas que envolvem crianças em hostilidades devem ser investigadas, processadas e sancionadas”.

O comitê pede a “suspensão imediata e urgente” do uso de crianças com trajes militares para quaisquer finalidades e que sejam removidas todas as imagens dos meios de comunicação, impedindo a distribuição.

O órgão ainda “solicita ao Brasil que se abstenha de cometer no futuro tais práticas que violam os direitos da criança e que divulgue amplamente informações sobre a Convenção e seus Protocolos Opcionais aos profissionais relevantes, bem como ao público em geral”.