Defensoria alerta que exposição do estuprador pode aumentar trauma da menina de 10 anos

Segundo o defensor Valdir Vieira, existe uma razão para que o processo seja sigiloso, pois a super exploração do caso pode aumentar a estigmatização e provocar ainda mais prejuízos à vítima

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O caso da menina de 10 anos que ficou grávida após ser estuprada por um tio, na cidade de São Mateus, no interior do Espírito Santo, é um dos temas mais comentados do Brasil nos últimos dias, especialmente depois do aborto que a menor realizou no último domingo (16), que foi possível graças à autorização legal da Justiça e apesar das manifestações de fundamentalistas religiosos na porta do hospital em Recife (PE), onde a operação aconteceu.

A verdadeira operação de guerra organizada por grupos religiosos e conservadores foi comandada pela ativista bolsonarista Sara Winter, e chegou inclusive à publicação do nome da menina e outros dados relacionados a ela, para que os fanáticos pudessem localizá-la.

Diante de tal situação, e com a prisão, nesta terça-feira (18), do tio da menina, que confessou tê-la estuprado – embora alegue que outro tio e um avô também abusaram dela –, muitos grupos nas redes sociais defenderam a exposição do nome e dados pessoais do estuprador, muitos sustentando o argumento de que ele teria que “sofrer o mesmo que ela sofreu” no domingo.

No entanto, para a Defensoria Pública do Espírito Santo, essa exposição poderia ser ainda mais prejudicial à vítima, pois “aumentaria o estigma da criança que teve que fazer um aborto”, comentou a entidade, em nota.

A Defensoria também lembra que a menina mora em uma cidade pequena (São Mateus-ES), de 70 mil habitantes, onde a repercussão do caso a deixaria ainda mais exposta a uma grande parte da população que conhece ambos.

“O processo é sigiloso. Há um limite do razoável, para que não exista uma super exploração, que leve a ainda mais prejuízos à vítima”, explica Valdir Vieira, membro da Defensoria Pública que acompanha o caso – atua na área de direito penal.