Desembargador que deu "carteirada" em guarda tem fazendas e integra clã latifundiário em SP

Eduardo Siqueira planta juta e é sócio do irmão, promotor, em uma fazenda de gado; ele tem outros parentes no Judiciário e pertence à família Almeida Prado, que se mantém como uma das grandes proprietárias de terras do interior paulista

Reprodução
Escrito en BRASIL el

Por Leonardo Fuhrmann, no De Olho Nos Ruralistas

Quando rasgou a multa aplicada por um Guarda Municipal de Santos, no litoral paulista, por andar sem máscara na orla em meio à pandemia, o desembargador Eduardo Almeida Prado Rocha Siqueira não usou só da autoridade conferida pelo cargo no Judiciário. No gesto, flagrado por uma câmera possivelmente de celular, está também uma amostra do que é e foi boa parte da elite rural paulista, da qual sua família faz parte.

Só na lista de desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) estão outros dois Almeida Prado. A família, com origens em Itu e Jaú, cidade de origem do desembargador, tem influência política no estado, sendo considerada descendente dos primeiros colonizadores do Brasil.

Um exemplo desse poder histórico está no século 19, quando uma das fazendas da família recebeu a convenção dos republicanos, no fim do império. Entre os integrantes ilustres da família estão médicos, advogados, que dão nome a diversas ruas em São Paulo e no interior, e o jornalista, professor e crítico Décio de Almeida Prado, homenageado com um teatro na capital paulista.

Fazendas produzem juta e gado leiteiro

Apesar da tradição do sobrenome, a numerosa família perdeu poder e influência política nas últimas décadas. Tanto que Eduardo Siqueira nem ostenta o sobrenome ilustre em seu nome oficial de desembargador. Conhecido entre os amigos como Siqueirinha, ele é formado pela Faculdade de Direito Católica de Santos, hoje parte da Unisantos, e pouco atuou como advogado. Formado em 1981, foi aprovado no exame da magistratura do ano seguinte. Ele também foi juiz na cidade. Formado pela mesma instituição, seu irmão Francisco foi promotor de Justiça.

Diferentemente do que foi dito por Siqueirinha, seu irmão não cuida dos inquéritos da Polícia Militar, conhecidos como IPM. Já aposentado, Francisco atuou em boa parte da carreira na Vara da Família. O assunto é, inclusive, tema de um livro que escreveu. Assim como o irmão, até os episódios da máscara, Francisco teve uma trajetória discreta dentro da carreira jurídica.

Além da carreira jurídica, Francisco e Siqueirinha seguem outra tradição familiar. Eles são proprietários rurais, donos de uma fazenda de criação leiteira de bovinos na região de Birigui, no oeste paulista. A sociedade foi formalizada em 2006, dois anos antes de Siqueira se tornar desembargador. Ele também aparece como proprietário de uma fazenda onde produz juta e milho, igualmente em Birigui. Essa empresa está apenas em nome do desembargador e foi criada em 2015.

Continue lendo no De Olho Nos Ruralistas