Diretor de hospital que fez aborto legal da menina de dez anos estuprada foi excomungado em 2009 pela igreja católica

Olímpio Moraes comentou as manifestações no hospital: "nunca presenciei isso"

O obstetra Olímpio Moraes | Foto: Agência Senado
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Uma entrevista de 2016, do médico obstetra pernambucano, Olímpio Moraes, diretor do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), que fez o aborto legal da menina de dez anos estuprada pelo tio, voltou a circular nesta semana, por conta do novo caso.

O médico, que atua há cerca de 30 anos como obstetra no Brasil, foi excomungado pela igreja católica por conta de outro caso, de uma criança de 9 anos, grávida de gêmeos, abusada sexualmente pelo próprio padrasto. Mesmo revoltando as autoridades religiosas locais e sendo ele próprio batizado pela Igreja Católica, o obstetra afirmou nunca ter duvidado de que interromper a gravidez seria o mais correto a se fazer.

“Eu nunca tive dúvidas de que aquilo era o correto a fazer. No caso dela se somavam duas indicações para o aborto legal. Além do estupro, havia o risco de morte. Era uma criança de 1,32 m grávida de gêmeos. Isso é uma gravidez de alto risco”, contou à BBC, em entrevista.

Após o procedimento, o médico foi excomungado pela Igreja Católica da região em 2009. O processo foi anunciado pelo Arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho, que ocupava o cargo na época.

"Estarrecido"

Neste domingo (16), depois de ter presenciado os protestos fundamentalistas, que expuseram a criança de 10 anos estuprada pelo próprio tio, a uma série de violências verbais e ataques, Olímpio Moraes deu uma entrevista para a agência de conteúdo Marco Zero, onde contou estar estarrecido com os protestos conservadores.

“Nós trabalhamos atendendo a população pernambucana e nordestina há mais de 20 anos e nunca presenciei isso. Eu acho que o ódio, a intolerância, estão sendo impulsionadas nesse momento que estamos vivendo de negacionismo, de fundamentalismo religioso”, analisou.

Apesar de o aborto ser legalizado em casos de estupro e risco à vida da gestante, fundamentalistas cristãos, mobilizados pela militante conservadora Sara Winter, no último domingo (16), organizaram uma manifestação agressiva em frente ao hospital onde a vítima de estupro estava hospedada.

Segundo Olímpio, o ato obstruiu a passagem da maternidade, prejudicando o fluxo de entrada e saída de pacientes. O médico conta que foi necessária a convocação de reforço policial para que os manifestantes fossem retirados no local, sem causar constrangimento aos pacientes da clínica.

De acordo com o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM), onde a vítima foi internada, a menina passa bem, após ter realizado os procedimentos médicos.