Drauzio Varella considera fala de Bolsonaro sobre pessoas com AIDS uma "desumanidade"

"Uma grosseria que não merece nem ser comentada", disse o médico ao repercutir, no Roda Viva, a declaração de Bolsonaro de que pessoas com AIDS são uma "despesa" para o país

Reprodução/TV Cultura
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Em entrevista a jornalistas do programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira (10), Drauzio Varella, um dos médicos mais respeitados do país, afirmou que frases como a do presidente Jair Bolsonaro sobre AIDS ajudam a estigmatizar ainda mais as pessoas que vivem com a doença.

"Preconceito e desumanidade. Atirar no doente a culpa da doença que ele tem.. A sociedade sempre fez isso. Na Idade Média se fazia isso com a hanseníase. Tuberculose era coisa dos devassos. E na AIDS, é coisa de promíscuos. Cansei de ver senhoras que casaram uma vez na vida e pegaram Aids do marido", afirmou o médico.

"Essas pessoas não pensam que isso pode acontecer com alguém da família deles. Ele não iria gostar que uma pessoa de sua família fosse tratada dessa forma", disse. "Uma grosseria [a fala do presidente] que não merece nem ser comentada", completou.

Na semana passada, ao falar sobre o projeto do governo de incentivo a abstinência sexual na adolescência, Bolsonaro afirmou que as pessoas com AIDS são uma "despesa" para o país.

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No Roda Viva, Drauzio Varella também comentou sobre o projeto, permeado por um conceito religioso de iniciação sexual tardia.

"Religião não deve influir em políticas de saúde. O Papa, lá atrás, se posicionou contra o uso de preservativos, o que é um crime. Nós aprendemos a lidar de outra forma com as doenças sexualmente transmissíveis de formas mais eficazes. Você pode aconselhar vida sexual tardia, mas isso não acontece na prática. Nós temos, no Brasil, mania de repetir os mesmos erros do passado", declarou.