Eles não desistem: Frota e MBL querem impedir palestra da filósofa Judith Butler em São Paulo

Norte-americana participará do seminário internacional "Os fins da Democracia", no Sesc Pompéia, entre os dias 7 e 9 de novembro.

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Norte-americana participará do seminário internacional "Os fins da Democracia", no Sesc Pompéia, entre os dias 7 e 9 de novembro. Da Redação* A extrema direita ataca novamente, principalmente nas figuras do MBL e do ator pornô Alexandre Frota e companhia. Depois de conseguirem cancelar a exposição "QueerMuseu", no Santander Cultural, em Porto Alegre, e gritar pelo fechamento do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), devido a uma performance com nu artístico, esses grupos fascistas estão pedindo o cancelamento da palestra da filósofa norte-americana Judith Butler, da Universidade de Berkeley, Califórnia. Ela vem ao Brasil para participar do seminário internacional "Os Fins da Democracia". Judith é um dos mais importantes nomes na área dos estudos de gênero e é referência teórica do movimento queer. Frota, inclusive, já promoveu uma manifestação em frente ao Sesc Pompéia, onde se realizará o seminário entre os dias 7 e 9 de novembro. Ao protesto soma-se à uma petição anônima, que pede ao Sesc o cancelamento da visita de Butler e já conta com 88.821 assinaturas. “Não podemos permitir que a promotora dessa ideologia nefasta promova em nosso país suas ideias absurdas, que têm por objetivo acelerar o processo de corrupção e fragmentação da sociedade”, diz o texto mais do que reacionário. A diretora da revista Cult, Daysi Bregantini, responsável, ao lado da filósofa Marcia Tiburi, pela primeira vinda de Judith Butler ao Brasil em 2015, conta que na ocasião houve manifestações da Tradição Família e Propriedade (TFP) e grupos neopentecostais, mas não de forma tão agressiva como a registrada nos dois últimos dias. “O Brasil está cada vez mais nas trevas”, declara. Daysi Bregantini ainda disse que entrou em contato com a direção do Sesc São Paulo e foi informada que “nem passa pela cabeça da direção da entidade a possibilidade de cancelar o seminário”. Para Marcia Tiburi, que praticamente apresentou Judith Butler ao Brasil, a filósofa é uma pensadora importantíssima no cenário atual. “Ensino usando seu livro "Problemas de Gênero" há mais de 15 anos. Não vejo motivo para que as pessoas estejam tentando impedir sua vinda ao Brasil”, afirma. Marcia ainda registra sua indignação: “Me pergunto o que está acontecendo com essas pessoas que veem problemas em uma teoria que desconhecem. Duvido que a tenham lido. Se tivessem lido poderiam contestá-la pelos meios habituais, com mais elegância. Realmente soa incompreensível essa manifestação por quem não se dedica a estudar sua obra”. Já o coordenador do seminário que acontecerá no Sesc Pompéia, Vladimir Safatle, filósofo e livre-docente da Universidade de São Paulo (USP), ironizou a atitude tomada por Frota e membros do Movimento Brasil Livre (MBL). “Olha, eu acho que eles têm razão no protesto deles. Nós representamos tudo aquilo que eles odeiam. Nós somos o inferno pra eles e isto não vai se resolver agora”. Para Safatle, a atitude tomada revela que os que estão usando uma espécie de discurso liberal, como o MBL, de fato são mentirosos. “Não existe nenhum liberal no mundo que iria perder o seu tempo para fazer alguém cancelar uma palestra, a não ser em casos muitos radicais como apologia ao Nazismo, por exemplo”, diz. Para o coordenador do seminário, “estamos tratando com os seres mais autoritários possíveis, que se travestem de liberais”. Ele lembra que a própria Universidade de Harvard abriu suas portas para ouvir o então presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, considerado praticamente à época um dos principais inimigos dos Estados Unidos. “A verdadeira prática de um liberal seria fazer outro seminário, ir discutir… Impedir está na ordem do mais completo absurdo”. Leia também: Judith Butler: Pesquisador da questão de gênero explica livro que os direitistas do MBL não leram *Com informações do Extra Classe Foto: Wikimedia Commons