Em carta, médicos criticam posicionamento do Conselho Federal de Medicina: "Muitos negam ser cúmplices desse desastre"

Manifesto intitulado "Compromisso com a Vida, Compromisso com a Verdade", assinado por mais de 100 médicos renomados, vem após o presidente do conselho criticar a CPI do Genocídio e defender negacionista

A médica Margareth Dalcolmo, uma das signatárias do manifesto contra o CFM (Foto: Virgínia Fuchs)
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Um grupo composto por mais de 100 médicos e médicas renomados do Brasil, entre eles Margareth Dalcolmo, Paulo Niemayer, Daniel Tabak e Ligia Bahia, divulgaram nesta quinta-feira (3) uma carta em que repudiam o posicionamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do presidente da entidade, Mauro Ribeiro, que tem questionado os trabalhos da CPI do Genocídio e sinalizado defesa ao que é pregado por médicos negacionistas como Nise Yamaguchi, defensora do "tratamento precoce", que não tem eficácia comprovada, contra a Covid-19.

"Nesse momento em que o padrão de transmissão da covid-19 segue elevado, nossa atenção se volta para a necessidade de políticas baseadas na ciência e boas práticas. Polarizações e divisões da categoria são contraproducentes. Consideramos relevante e apoiamos quaisquer iniciativas para mudar o rumo do dramático contexto epidemiológico e social do país", dizem os médicos em um trecho da carta, intitulada "Compromisso com a Vida, Compromisso com a Verdade".

O texto foi divulgado um dia após o presidente do CFM, Mauro Ribeiro, divulgar um vídeo em repúdio ao que classificou como “ambiente tóxico” e “nada democrático” da CPI do Genocídio. Ribeiro criticou o senador Otto Alencar (PSD-BA) por sua fala no depoimento da médica Nise Yamaguchi. Ele ainda disse que “não sabemos nada, temos todas as dúvidas do mundo”, abrindo espaço para a defesa de métodos sem eficácia como os pregados pela médica negacionista.

No mesmo dia do vídeo de Ribeiro, o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou uma nota de repúdio aos senadores da comissão. De acordo com o documento, "o CFM, em nome dos mais 530 mil médicos brasileiros, vem publicamente manifestar sua indignação quanto às manifestações que revelam ausência de civilidade e respeito no trato de senadores com relação a depoentes e convidados médicos no âmbito da comissão parlamentar de inquérito".

Os médicos que assinam o manifesto contra a CFM, no entanto, afirmam que muitos profissionais de saúde "se negam ser cúmplices desse desastre".

Confira a íntegra do texto.

Compromisso com a Vida, Compromisso com a Verdade

Como médicos, comprometidos com a melhoria da saúde no país, discordamos de posições do Conselho Federal de Medicina contrárias à apuração das responsabilidades e omissões para o enfrentamento da pandemia de covid-19. Nesse momento em que o padrão de transmissão da covid-19 segue elevado, nossa atenção se volta para a necessidade de políticas baseadas na ciência e boas práticas. Polarizações e divisões da categoria são contraproducentes. Consideramos relevante e apoiamos quaisquer iniciativas para mudar o rumo do dramático contexto epidemiológico e social do país. Precisamos somar esforços para fortalecer o SUS e a ciência brasileira, que conjugados são a melhor resposta para a pandemia.

Se você concordar com esse texto divulgue para seus colegas médicos para que circule e informe que muitos médicos se negam ser cúmplices desse desastre.