Enem na calamidade: Governo Bolsonaro recorre para manter prova no Amazonas

Estado, principalmente a capital Manaus, passa por colapso hospitalar e explosão dos casos e mortes por Covid-19, mas governo Bolsonaro argumenta que suspensão do exame "afeta cronograma"

Foto: Raphael Alves/Amazônia Real
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Mesmo diante do fato de que o estado do Amazonas, principalmente a capital Manaus, vive um cenário de guerra com o colapso do sistema hospitalar e explosão de casos e mortes por Covid-19, o governo de Jair Bolsonaro quer manter o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no próximo domingo (17).

Na noite de quarta-feira (13), o juiz federal Ricardo Augusto De Sales determinou a suspensão da realização das provas no estado até o fim do estado de calamidade pública decretado pelo governador Wilson Lima (PSC).

"Aparentemente, malfere o princípio da moralidade administrativa se impor aos estudantes e profissionais responsáveis pela aplicação do Enem que se submetam a potenciais riscos de contaminação pelo Covid-19, numa situação na qual o poder público não dispõe de estrutura hospitalar-sanitária para dar o socorro médico devido àqueles que eventualmente necessitarem", escreveu o magistrado em sua decisão.

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O governo Bolsonaro, entretanto, entrou com recurso contra a decisão judicial através da Advocacia-Geral União (AGU) nesta quinta-feira (14).

"Qualquer decisão que afete os procedimentos referentes ao cronograma do Enem refletirá nos cronogramas do Sisu, do Fies e do Prouni, resultando, necessariamente, em graves danos ao candidatos, a todas as instituições públicas e privadas envolvidas, e ao interesse público como um todo", justifica a AGU.

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O recurso do governo será analisado pelo Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1), de Brasília.

Caos em Manaus

A segunda onda da pandemia chegou forte no Amazonas e a capital Manaus vem vivendo um colapso do sistema de saúde que está se intensificando nos últimos dias.

Com a explosão de novos casos de pessoas infectadas, hospitais estão superlotados e há falta de oxigênio. Há relatos de inúmeros pacientes morrendo por conta do colapso hospitalar e centenas de pessoas já vêm sendo transferida para serem tratadas em outros estados.

O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto (PSDB) afirmou em vídeo publicado no seu Instagram que 28 pacientes morreram por falta de oxigênio no Pronto-Socorro 28 de Agosto, na capital amazonense. Os hospitais da cidade amanheceram praticamente sem estoques de oxigênio nesta quinta-feira (14).

“É com muita tristeza que eu me dirijo a você hoje. 28 pessoas mortas por falta de oxigênio só no [PS] 28 de agosto”, afirmou o ex-prefeito.

Fórum teve acesso a áudios trocados em grupos de Whatsapp de médicos da capital amazonense que relatavam 19 mortes no Pronto-Socorro 28 de Agosto entre a 0h e as 8h desta quinta-feira. A publicação de Virgílio foi por volta das 15h.

No vídeo, o ex-prefeito diz que, em sua opinião, o atual governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), é o pior que o estado já teve. E completou: “O senhor está praticando assassinato. E o pior: assassinato a la Hitler. Assassinato tipo câmara de gás. Assassinato por asfixia. O pior tipo. O mais doloroso. O mais cruel. O mais perverso”.