Filho de reitor da UFSC que se suicidou também é denunciado sem provas pelo MPF

Mikhail Cancellier, acusado de participação em esquema de desvio de verbas pelo MPF-SC, é filho do reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que se suicidou em outubro de 2017; seu caso será analisado pela mesma juíza que ordenou a prisão de seu pais

O ex-reitor da UFSC Luiz Cancellier - Foto: Reprodução/YouTube
Escrito en BRASIL el
O professor Mikhail Vieira Cancellier foi denunciado pelo Ministério Público Federal de Santa Catarina (MPF-SC), nesta sexta-feira (12) por peculato, em causa que o relaciona a um suposto esquema de desvio de verbas públicas federais de programas de educação à distância. Além de Cancellier, a denúncia dos promotores acusa outras 12 pessoas, todas elas ligadas à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Inscreva-se no nosso Canal do YouTube, ative o sininho e passe a assistir ao nosso conteúdo exclusivo O sobrenome de Mikhail é o que mais chama a atenção neste caso: ele é filho de Luiz Carlos Cancellier de Olivo, ex-reitor da UFSC, preso pela Polícia Federal (PF), durante a Operação Ouvidos Moucos, acusado de obstrução da Justiça - também era suspeito de desvio de verbas, mas essa denúncia nunca foi provada pelos policiais e promotores, razão pela qual ele foi solto no dia seguinte. Após um mês de investigação e alguma pressão dos procuradores para se reinstalar o processo, Cancellier decidiu tirar a própria vida, ao se atirar do último andar de um shopping de Florianópolis, em outubro de 2017. A prisão do reitor Cancellier, em setembro de 2017, foi autorizada pela juíza Janaína Cassol Machado, que curiosamente saiu de licença no dia seguinte à decisão. Em menos de 25 horas, a substituta de Cassol, a juíza Marjôrie Cristina Freiberger, determinou que ele fosse libertado imediatamente. A juíza que analisará o caso de Mikhail Cancellier e dos demais 12 acusados no processo recém instalado é a mesma Janaína Cassol. Outra figura importante no caso do reitor Luiz Carlos Cancellier foi a delegada da PF, Erika Marena, responsável pela Operação Ouvidos Moucos, e que antes participou de tarefas da Operação Lava Jato, em Curitiba. Após o suicídio de Cancellier, Marena foi afastada do caso e transferida para Sergipe - hoje ela comanda o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), cargo para o qual foi indicada pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro. Em março de 2019, ela ganhou outro cargo, sendo indicada como conselheira no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), quando o órgão já era badalado pela imprensa pelo escândalo do esquema laranja envolvendo o senador Flávio Bolsonaro e seu assessor Fabrício Queiroz. O substituto de Marena na Ouvidos Moucos foi o delegado Nelson Napp, que no relatório final da operação apontou que Cancellier só não foi indiciado devido à sua morte, e que o filho teria sido um dos beneficiados pela suposta quadrilha. A acusação de Napp contra Mikhail Cancellier se baseia em um suposto esquema de corrupção que envolve transações financeiras ocorridas entre agosto e outubro de 2013, somando um total de R$ 7 mil, e que teriam sido realizadas por outro professor da UFSC, Gilberto Moritz, amigo de Luiz Carlos Cancellier. Conclusão Contudo, a conclusão do relatório final se sustenta principalmente em rumores, e não em provas: “Comenta-se que os recursos transferidos para Gilberto Moritz foram oriundos do projeto Especialização Gestão Organizacional e Administração em RH (TJ), coordenado por Luiz Carlos Cancellier, sendo este o ordenador de despesa do referido projeto. Após o recebimento dos recursos, Gilberto Moritz transferiu para Mikhail Vieira de Lorenzi Cancellier, filho do ex-reitor Cancellier, o valor de R$ 7.102”, diz o documento da PF. A denúncia do procurador André Bertuol apresenta a mesma conclusão e não mostra novas provas de que Mikhail Cancellier teria se beneficiado de um suposto esquema. Para o advogado Edward Carvalho, que defende Mikhail Cancellier no caso, a denúncia é uma forma de justificar as investigações contra o pai do professor, e atacar sua memória. "Quebraram seu sigilo bancário e o que encontraram foi aquilo, R$ 7 mil de transferência em três meses. Ele já provou sua inocência durante o inquérito. Infelizmente agora vai ter que provar a inocência numa ação penal", comenta o Carvalho.