Que Jair Bolsonaro não é afeito a ritos democráticos e à transparência dos seus atos e de seus familiares, todo mundo sabe. Isso incluiu, obviamente, uma relação precária com a imprensa, já que o presidente extremista vive insultando jornalistas que não fazem parte dos veículos "amigos" de seu governo.
Nesta quarta-feira (27), após ser confrontado com uma pergunta irônica pelo humorista André Marinho, na rádio Jovem Pan, Bolsonaro mais uma vez encerrou a participação no programa e fugiu, não sem antes retrucar com sua habitual arrogância e tom intimidatório.
A cena é corriqueira e pode despertar uma espécie de "déjà-vu" em quem assiste ao hilário vídeo do mandatário de extrema direita enfurecido com a petulância do comediante. A Fórum foi então aos arquivos para trazer outros episódios em que Jair Bolsonaro, sempre às turras com o jornalismo, saiu fugido de entrevistas após perguntas desconfortáveis.
21 de junho de 2021 – Durante uma visita à Escola de Sargentos da Aeronáutica, em Guaratinguetá (SP), o presidente foi questionado por uma repórter de uma emissora afiliada da TV Globo sobre o motivo de não usar máscara. Furioso, Bolsonaro gesticulou com agressividade próximo do rosto da jornalista e a mandou calar a boca aos berros.
24 de fevereiro de 2021 – Entrevista encerrada após o presidente ser questionado sobre sua opinião em relação à anulação de parte das provas usadas na denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) contra seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), investigado por peculato, as famosas "rachadinhas".
27 de janeiro de 2021 – Era uma manhã ensolarada de quarta-feira quando um repórter resolveu perguntar sobre o inquérito aberto pelo ministro Ricardo Lewandowski, do STF, para investigar seu então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, no caso do colapso sanitário em Manaus, na chamada crise do oxigênio. Com a falta de educação e de civilidade habituais, o chefe do Executivo federal deu as costas para o jornalista antes da pergunta ser concluída e se dirigiu ao carro de sua comitiva.
31 de janeiro de 2020 – Entrevista encerrada após um repórter perguntar se era verdade que Bolsonaro havia se reunido naquele momento com o então ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que estava ameaçado de perder o cargo após o "nº 2" na pasta, Vicente Santino, ter feito um voo particular caríssimo num avião da FAB. Onyx o demitiu para no dia seguinte readmiti-lo, mas foi obrigado por Bolsonaro a demiti-lo novamente.
7 de outubro de 2019 – Diante da crise ambiental provocada por um enorme vazamento de óleo que atingiu as praias do Nordeste, Jair Bolsonaro foi questionado sobre onde estaria o ministro do Turismo naquele momento. Ainda tranquilo, ele disse que o responsável pela pasta não estava ali e que na verdade permanecia na Espanha, em viagem. Diante da resposta, uma repórter perguntou: "E ele segue no cargo?". A indagação foi o suficiente para que o presidente desse as costas e saísse do local.
11 de junho de 2019 – Quando ainda era amigo de João Doria (PSDB), o chefe de Estado brasileiro protagonizou mais uma cena ridícula com a imprensa, bem ao lado do governador de São Paulo. Bolsonaro havia respondido quatro perguntas sobre a Reforma da Previdência e, no quinto questionamento, sobre Sergio Moro, fechou a cara e disse: "Está encerrada a entrevista, viu?". A fúria era compreensível, já que seu então ministro da Justiça e Segurança Pública era alvo de vazamentos que mostravam suas relações nada imparciais com procuradores da Operação Lava Jato.