Greve dos professores de SP: "Não estamos pedindo salário. Estamos defendendo a vida"

Em entrevista à Fórum, a deputada Professora Bebel (PT), presidenta da Apeoesp, afirmou que primeiro dia de greve dos professores contra a volta às aulas em meio a pandemia teve boa adesão e acusou o governo de SP de ser "tão negacionista quanto o governo Bolsonaro"

A presidenta da Apeoesp, Professora Bebel, em ato contra a volta presencial das aulas em SP (Divulgação)
Escrito en BRASIL el

Nesta segunda-feira (8) mais de 4 mil escolas estaduais da rede pública reabriram para as aulas presenciais em São Paulo. A reabertura ocorre em meio a alta dos números de casos e mortes por Covid-19 e ocorre após uma batalha judicial entre o governo paulista e professores e pais de alunos que são contra a retomada das aulas in loco neste momento.

Em ações na Justiça que foram derrotadas por recursos do governo de João Doria (PSDB), o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) trazia estudos que mostravam que as escolas paulistas não têm condições de seguir protocolos sanitários a fim de garantir a segurança de alunos, professores e funcionários contra a contaminação da Covid.

Como último recurso contra a volta presencial das aulas, a Apeoesp iniciou uma greve nesta segunda-feira (8) que, de acordo com a presidenta ada entidade, a deputada estadual Professora Bebel (PT-SP), contou neste primeiro dia com cerca de 20% de adesão, o que é considerado um número positivo.

"O primeiro dia para nós é sempre organizativo. Por mais que anuncie antes, ele é organizativo. Até às 12h tive um quadro de uma faixa de 15% a 20% [de adesão], que considero boa. Já tem uma redução do número de professores por conta de comorbidades e idade, então não começa ruim, não. E o número de alunos está muito aquém do que o governo esperava. Por exemplo, tem escola que está com 5 alunos. Isso mostra que a população está muito consciente", disse Bebel em entrevista à Fórum.

Leia também: Mães de alunos de escolas de elite hostilizam professores da rede pública que são contra volta às aulas

"E tem escola de 900 alunos que estão aparecendo 50. Já foi registrado caso, de uma escola na região de Presidente Prudente, de quebra de protocolo na porta. Pessoal com máscara mas aglomerado na porta da escola. Este é o medo que a gente tinha e está acontecendo. E lamentavelmente pode vir a se confirmar num quadro bastante perigoso nesse momento de pandemia", completou a professora.

Por determinação do governo, a reabertura das escolas tem acontecido de maneira gradual, com 35% dos alunos de cada unidade participando das aulas de maneira presencial.

A presidenta da Apeoesp aponta, entretanto, que na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) há um pedido de 35 municípios que querem decretar estado calamidade pública por conta da alta dos números da pandemia, o que mostraria o risco da reabertura das escolas determinada pelo governo do estado.

"Não é um quadro isolado entre professores ou a sociedade. Mostra uma preocupação dos prefeitos também", pontuou a deputada.

Segundo a petista, já há registros de 200 contaminados em escolas paulistas e os casos de Covid que estavam restritos a 30 unidades agora já está em 94. "Começa assim. Começa pequeno e vai se estendendo. Ou abre os olhos e ver que a hora é de parar e repensar, ou pague para ver. Acho que é isso que o secretário [estadual da Educação] quer fazer. Toda a responsabilidade nós vamos imputar nas costas do secretário de Educação e do governador. Isso é uma irresponsabilidade. Estamos no pior momento do coronavírus, pior que março quando se fechou tudo", declarou Bebel.

O secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, informou que os professores que aderiram à greve terão os dias paralisados descontados de seus salários e disse ainda que estuda acionar a Justiça contra o movimento greveista.

Como reação à ameaça do secretário, a Professora Bebel afirmou que ele "é tão negacionista" contra o governo Bolsonaro e garantiu que o sindicato não se intimida com o desconto do salário a judicialização da greve.

"Entrar na Justiça com base em que? Estamos defendendo a vida, não estamos pedindo salário, estamos pedindo para trabalhar remotamente. Ele que pensar primeiro no papel dele como secretário de uma pasta que tem mais de 3 milhões de alunos e cerca de 5 mil escolas. A responsabilidade dele é essa. Esperar o que de um secretário com uma postura dessa? Que não abre diálogo? Nós não estamos nos submetendo às ordens deles", disparou a deputada.

A Apeoesp deve seguir com a greve dos professores ao longo da semana. Nesta terça-feira (9), será realizada uma assembleia entre professores, alunos e funcionários de escolas e, na sexta-feira (12), uma nova assembleia, desta vez somente entre professores, deverá definir os rumos do movimento grevista.