Holiday destila ignorância e associa cotas raciais na USP ao "apartheid" e "nazismo"

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O vereador criticou a conquista histórica do movimento negro desta semana que conseguiu fazer com que a USP adotasse, finalmente, um sistema de cotas raciais. Para Holiday, a reserva de vagas na universidade para pretos, pardos e indígenas segrega a população, uma falácia facilmente desconstruída por especialistas no assunto. Confira aqui como seu discurso é raso  Por Redação  O vereador Fernando Holiday (DEM-SP) publicou em suas redes sociais, nesta quarta-feira (5), um vídeo em que critica a adoção de cotas raciais no vestibular da Universidade de São Paulo (USP), aprovada pelo Conselho Universitário esta semana. A medida foi extremamente comemorada por professores, alunos e pelo movimento negro como um todo, que há décadas luta pelo acesso à universidade em um dos países que mais se mata a população negra, que é maioria, e que historicamente é minoria em cadeiras universitárias. Leia também: Cotas Raciais na USP! Finalmente um início de democracia Qualquer pessoa que tente entender, ainda que superficialmente, a origem do sistema de cotas e sua utilidade, tem facilmente a percepção de que é um sistema que visa democratizar o acesso universitário, tendo em vista que Universidade sempre foi um privilégio para poucos no país. Os críticos às cotas dizem que a reserva de vagas deveria ser pautada pela questão social, e não racial, como se uma coisa não estivesse ligada a outra. O principal argumento utilizado é de que as cotas são "preconceituosas" e que "segregam" a população. É nesta linha que vai Holiday no vídeo postado esta semana, mas com um detalhe a mais que beira o non sense: o vereador paulistano associa a adoção do sistema de cotas ao apartheid e ao nazismo, regime que mais segregou pessoas no mundo. "É como se estivéssemos voltando para o tempo do apartheid e até do nazismo. Só que agora sob a liderança do politicamente correto representado por um movimento negro de esquerda. Agora essas faculdades querem segregar, separar os brancos dos negros", afirmou. Em 2015, antes mesmo de Fernando Holiday se eleger vereador, ele já propagava esse tipo de discurso e Fórum entrevistou referências do movimento negro para comentar suas declarações. A ideia de que as cotas segregam a população já havia sido desconstruída, naquela época, peloo advogado Silvio de Almeida, professor das universidades Presbiteriana Mackenzie e São Judas Tadeu e presidente do Instituto Luiz Gama, e por Eliane Oliveira, mestre em Ciências Sociais e pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros (NEIAB) da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Observe como as respostas dos especialistas se aplicam para desmontar o discurso do vereador paulistano mesmo hoje, mais de dois anos depois. “Não precisa ser nenhum pesquisador para perceber essa necessidade [de que cotas tenham viés racial], basta fazer o teste e olhar para os lados. Um país onde pouco mais da metade da população se autodeclara negra, mas vemos os negros, em maior número, em funções socialmente degradadas exige essa reparação histórico-social. Nossa sociedade é profundamente racista, o mito da democracia racial só existe nos textos acadêmicos. Quando eu entrar numa sala de aulas e metade dos estudantes for negra, aí vou considerar que as cotas [raciais] não são necessárias.”, disse Eliane Oliveira. "As cotas são políticas públicas que visam a justamente romper os privilégios raciais que nitidamente pautam o acesso ao ensino superior e a todas as instâncias de poder. Portanto, o que foi dito nem chega a ser um argumento; não passa de uma bobagem”, pontuou Silvio de Almeida. Relembre a matéria "Desconstruindo o discurso de Fernando Holiday" aqui.