Indígenas de aldeia em Paraty sofrem ataques e ameaças de morte em meio à luta por demarcação

Povos Guarani relatam aumento da violência durante o governo Bolsonaro. Aldeia já presenciou morte e tortura por posseiros

Vice-cacica Neusa (Reprodução)
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Indígenas Guarani Mbyá e Nhandéva da Terra Indígena do Rio Pequeno Tekoha Djev’y, em Paraty, no Rio de Janeiro, estão sofrendo diversos ataques e ameaças de morte por parte de moradores, madeireiros e posseiros da região.

O próprio prefeito da cidade, Luciano Vidal (MDB), reeleito para um novo mandato, chegou a gravar um vídeo no Facebook, em setembro de 2020, posicionando-se contra a homologação da terra.

"O atual prefeito se aliou ao governo de Bolsonaro, recorreu aos deputados estaduais, federais, junto à Câmara dos Vereadores de Paraty, que ele se coloca contra o processo de demarcação da terra indígena. Isso gerou um conflito muito grande para a comunidade", conta a vice-cacica Neusa Kunha, em entrevista à Fórum.

Segundo apoiadores da Terra Indígena do Rio Pequeno, as ameaças se intensificaram depois do despacho da Fundação Nacional do Índio (Funai), de abril de 2017, que reconheceu a ocupação dos povos indígenas da região. O processo de demarcação, no entanto, voltou a estagnar durante o governo de Jair Bolsonaro.

Informações obtidas pela Fórum com apoiadores da luta indígena na região, o conflito com os posseiros resultou no assassinato do filho do cacique Demércio, João Mendonça Martins, em janeiro de 2018.

Meses depois, um outro indígena da aldeia, Jorge Luís, teria sido preso por posseiros em cárcere privado e torturado. Segundo relatos, ele foi agredido e obrigado a ingerir bebidas alcoólicas, sendo posteriormente resgatado por lideranças indígenas da região.

O deputado David Miranda (PSOL-RJ) chegou a denunciar o aumento da violência na comunidade indígena em Paraty e solicitou a presença de policiais federais para garantir a seguranças das famílias de forma permanente.

Até então, não houve a emissão de portaria declaratória pelo Ministério da Justiça solicitando a continuação do procedimento de demarcação. Com isso, o Ministério Público instaurou uma ação requerendo a conclusão do processo.

Uma audiência pública também foi marcada para a próxima quinta-feira (28) pelo Ministério Público no intuito de apaziguar e dialogar com a comunidade. Indígenas da Tekoha Djev’y estão em campanha nas redes sociais mobilizar apoio em prol da demarcação.