Jornalista agredida faz curso de defesa pessoal e conta essa e outras histórias em livro

Em Mulheres agredidas que revidam, Andreia Barros revela a trajetória de mulheres que resolveram aprender a se defender sozinhas da violência masculina.

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Em Mulheres agredidas que revidam, Andreia Barros revela a trajetória de mulheres que resolveram aprender a se defender sozinhas da violência masculina. Por Lucas Vasques De cada dez mulheres que procuram academias de defesa pessoal, nove já sofreram agressões físicas de homens. Este foi o ponto de partida da jornalista Andreia Barros para escrever o livro Mulheres agredidas que revidam (Casa Flutuante). Ela mesma tomou conhecimento dessa informação depois de se matricular em um curso, consequência de agressões que sofreu por parte de um vizinho. "O livro é, em certa parte, biográfico, pois no último capítulo conto em detalhes essa trágica experiência que passei". "Esse tipo de ocorrência acontece com muita frequência", conta Andreia. Na madrugada desta quarta-feira (20), por exemplo, após ter a sua casa invadida e sofrer tentativa de estupro, uma mulher reagiu e bateu no suspeito, em Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá. A vítima, de 19 anos, pediu socorro depois que Damião de Jesus Marques, de 28 anos, tentou estuprá-la e também ameaçou estuprar a filha dela, de 3 anos. "Para chegar ao livro, tudo começou fruto do meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Quando estava no processo de escolher o tema, sofri a primeira agressão de um vizinho, sem motivo nenhum. Resolvi me inscrever em um curso de defesa pessoal, porque senti que, em geral, não havia uma preocupação por parte das autoridades no sentido de preservar a vítima e punir o agressor. Fiz boletim de ocorrência, mas o agressor saiu da delegacia dando risada na minha cara. Ele chegou a dizer que seu sonho era me dar uma surra até eu não poder mais levantar do chão. O homem tem o típico perfil violento, pois batia na mulher dele com frequência. Enfim, seis meses depois, ele a a mãe agrediram a mim, novamente, e à minha mãe. Eu tentei me defender, usando spray de pimenta, conforme havia aprendido no curso de defesa pessoal. Aliás, existe uma portaria que legitima o uso do equipamento para esses casos. O resultado é que tive de me mudar de residência e resolvi contar essa e outras histórias semelhantes em livro", conta Andreia. Para escrever, a jornalista entrevistou mais de 200 fontes, entre vítimas, psicanalistas, advogados e antropólogos. Ela narra a trajetória de três mulheres, que, depois de sofrerem violência, partiram para o curso de defesa pessoal, com o objetivo de se proteger. "Em uma das histórias, falo sobre uma mulher que sofreu violência sexual dentro de um avião. O outro é a respeito de tortura psicológica, o típico namoro abusivo. E a terceira é agressão passional, ou seja, um homem que perseguiu uma mulher por dois anos, até que levou uma surra dela, que também havia se matriculado no curso de defesa pessoal", explica. Para Andreia, a situação chegou a esse ponto em função do abandono do Estado em termos de segurança pública, o que deixa a mulher completamente vulnerável. "Ela não vê outra saída, a não ser aprender a se defender. Seria preciso uma reforma em toda a engrenagem, uma força-tarefa entre os envolvidos, para mudar essa situação. Para se ter uma ideia da gravidade do problema, em toda a cidade de São Paulo, existem apenas nove Delegacias da Mulher. Além disso, é importante ressaltar a importância da Lei Maria da Penha, promulgada há 11 anos. No entanto, ela não prevê pena em regime fechado, o que incentiva a prática da violência. É preciso deixar a legislação mais rigorosa para coibir essas ações", completa a jornalista. O livro está à venda somente pelas redes sociais, na page Mulheres Que Revidam. Foto: Arquivo pessoal