MBL ganha na Justiça liminar para fazer na UFSC evento acusado de promover neonazistas

Procuradoria-Geral da instituição vai recorrer da decisão, alegando que “a universidade deve ser respeitada na sua autonomia constitucional e no seu direito de gerir a ocupação dos seus espaços".

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Procuradoria-Geral da instituição vai recorrer da decisão, alegando que “a universidade deve ser respeitada na sua autonomia constitucional e no seu direito de gerir a ocupação dos seus espaços". Por Raquel Wandelli, do Jornalistas Livres* Inconformado com a desautorização de uso do auditório do Centro de Estudos Socioeconômicos da UFSC, o estudante de Direito Gabriel César de Andrade entrou com liminar na justiça que determina a realização das atividades da “Semana Vítimas do Comunismo: A maior tragédia do século XX” no local programado. A liminar foi concedida pelo juiz federal Osni Cardoso Filho, da 17ª Região do Tribunal Regional Federal, que deu à UFSC dez dias para explicar suas razões, mas determinou o cumprimento imediato da decisão para evitar prejuízos aos organizadores. Conforme o professor Irineu Manoel de Souza, a Procuradoria Geral da UFSC vai recorrer à decisão, alegando que “a Universidade deve ser respeitada na sua autonomia constitucional e no seu direito de gerir a ocupação dos seus espaços”. O procurador Juliano Shemer Rossi deve entrar com recurso contra a decisão até esta quarta (8). Na liminar, o juiz argumenta que o evento passou a ter sustentação regulamentar quando o professor que retirou a autorização foi substituído ontem por outro. “Desprende-se da avaliação unilateral e tardia do primeiro solicitante o uso do auditório do centro sócio econômico, quando um segundo servidor passa a atender o requisito formal da titularidade do requerimento formulado e autorizado para, assim, evitar a frustração de acontecimento com presumível organização prévia.” A abertura da Semana foi realizada ontem, às 20 horas, no auditório do Centro Tecnológico, com um público de pouco mais de 100 pessoas. Para elaboração do recurso, a UFSC está avaliando denúncias que recebeu do Coletivo Floripa Contra o Estado de Exceção de que o evento reúne elementos ligados ao neonazismo na Ucrânia, grupo que está sendo investigado por recrutar jovens no Rio Grande do Sul para atuar no exército nazista. No começo de 2016, a Polícia do Rio Grande do Sul recebeu informações sobre a presença de pessoas da Ucrânia e de outros pontos do Leste Europeu com o objetivo de cooptar brasileiros ligados ao neonazismo para participar do Batalhão Azov. Embora o foco principal sejam as diferenças étnicas, os grupos neonazistas perseguem grupos minoritários como os gays, transexuais, estrangeiros, mulheres, comunistas, índios, nordestinos, dentre outros. Antes da autorização do evento ser revogada pela direção do Centro Sócio Econômico, vários grupos antifascistas orientaram pessoas negras, não heterossexuais, indígenas, militantes políticos com adesivos ou camisetas de líderes de esquerda ou pessoas que simplesmente não correspondem ao padrão aprovado pela cultura nazista a não circularem perto do local no campus universitário, de 6 a 10 de novembro, quando ocorre o evento, como informou a estudante e leitora dos Jornalistas Livres, Carla Cristina. Lideranças do Movimento Brasil Livre (MBL), como Kim Kataguiri (foto) estão em Florianópolis para participar das conferências. Em entrevista ao canal “Mamãe, Falei”, divulgada nas redes sociais, Kataguiri é anunciado como um “elemento surpresa”, que faria uma palestra no evento para brindar os participantes. O MBL também publicou uma nota de repúdio ao cancelamento da Semana. Desde que houve a contestação do evento, sua realização tem sido defendida nas redes sociais por grupos de ultra direita, partidários da candidatura de Bolsonaro e que pedem a volta da Ditadura Militar. *Com informações do Jornalistas Livres Foto: Reprodução