Médicos e pacientes relatam arritmias e hepatites como efeitos colaterais do uso do “tratamento precoce”

É compreensível que, no início, fossem adotados medicamentos sem benefício comprovado. Entretanto, há meses, temos dados suficientes para abandonar o uso dessas medicações, por provas contundentes de que não ajudam no tratamento e também podem estar implicadas em riscos adicionais não desprezíveis, diz Esper Kallas, médica infectologista

Bolsonaro com medicamentos à base de cloroquina - Foto: Reprodução
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Reportagem de Everton Lopes Batista e Phillippe Watanabe na Folha de S. Paulo de hoje (23/1) traz depoimentos de médicos e pacientes que fizeram o tratamento precoce defendido como política pública de saúde pelo governo federal e tratada como solução para o coronavírus pelo presidente da República Jair Bolsonaro. Esses médicos e pacientes relatam uma série de efeitos colaterais, entre eles arritmias e hepatites. Sendo que no caso de uma dessas histórias, o paciente acabou morrendo.

Segundo a reportagem, quando Edson José da Rocha, 51, recebeu o diagnóstico de Covid-19, veio junto a indicação do chamado "tratamento precoce", com drogas como azitromicina e ivermectina. Ele as usou e mesmo assim foi internado. A partir daí começou a usar cloroquina,  quando passou a sentir uma sensação estranha no peito. Edson piorou e em menos de um mês morreu.

Quem contou a história de Edson para a reportagem da Folha foi sua irmã, Ivone Meneguella, médica intensivista de hospitais em Campinas (SP). Segundo ela, uma arritmia cardíaca e a piora do quadro clínico ficaram claras após o terceiro comprimido de cloroquina que o irmão ingeriu, apesar do apelo que ela tinha feito aos seus médicos para que não prescrevessem a droga a ele por conta do histórico de arritmias na família. O policial penal morreu em 26 de agosto do ano passado.

A reportagem sustenta que “após um ano de pandemia e dezenas de estudos, a cloroquina, a hidroxicloroquina e a azitromicina não mostraram efeito benéfico no tratamento da doença, e não há estudo convincente sobre a eficácia antiviral da ivermectina”.

“Como escreveu o médico infectologista e professor da USP Esper Kallás em sua mais recente coluna da Folha: "É compreensível que, no início, fossem adotados medicamentos sem benefício comprovado. Afinal, muitos pacientes estavam morrendo. Entretanto, há meses, temos dados suficientes para abandonar o uso dessas medicações, por provas contundentes de que não ajudam no tratamento e também podem estar implicadas em riscos adicionais não desprezíveis".”

PRINCIPAIS EFEITOS ESPERADOS DOS REMÉDIOS DO 'KIT COVID'

Reações são raras, mas chance aumenta com uso contínuo e/ou associado a outros remédios

Sulfato de Hidroxicloroquina

  • Lesão na retina
  • Hipoglicemia
  • Insuficiência cardíaca
  • Arritmias
  • Morte súbita

Cloroquina

  • Cegueira
  • Lesão na retina
  • Perda auditiva
  • Insuficiência cardíaca
  • Arritmias
  • Distúrbios neurológicos

Ivermectina

  • Tontura
  • Sonolência
  • Lesões na pele
  • Diminuição da pressão arterial
  • Aumento da frequência cardíaca

Azitromicina

  • Distúrbios de paladar e olfato
  • Disfunções auditivas
  • Arritmias
  • Inflamação no pâncreas
  • Dor abdominal
  • Insuficiência hepática

Efeitos que podem ser produzidos por qualquer remédio em automedicação

  • Irritação gastrintestinal
  • Inflamação do fígado (hepatite)
  • Diarreia
  • Náuseas

Fontes: EMS, Cristália, Abbott e Eurofarma

Leia a integra desta reportagem na Folha