Monica Benicio: “São 300 dias de um dos crimes políticos mais bárbaros da história ainda sem justiça”

“É lastimável que após uma semana da posse o presidente não tenha se pronunciado publicamente ou procurado a família para quaisquer esclarecimentos ou prestação de solidariedade, embora não me surpreenda”, afirma a viúva de Marielle Franco

Créditos: Arquivo pessoal
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[caption id="attachment_147338" align="alignnone" width="700"] Foto: Reprodução/Facebook[/caption] Os assassinatos da ex-vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completam 300 dias nesta terça-feira (8) sem que os culpados tenham sido punidos. Apesar disso, Monica Benicio, arquiteta, militante feminista e LGBTI, defensora dos direitos humanos e viúva de Marielle não perde a esperança: “Não acho que seja possível, de nenhuma forma, que esses crimes fiquem sem solução”. No entanto, ela alerta para a necessidade de se manter na luta: “O tempo traz, de alguma forma, um ‘conformismo’ com o passar do tempo. A ausência passa ser algo associada à rotina e o sentimento de indignação vira outra coisa. Não podemos permitir que a ausência da Marielle caia no conformismo. Para mim, no campo pessoal e político, não há possibilidade de me conformar”, declara, em entrevista à Fórum. Fórum - Você ainda teme que os assassinatos de Marielle e Anderson fiquem sem solução e sejam esquecidos? Monica Benicio - Não acho que seja possível, de nenhuma forma, que esses crimes fiquem sem solução. O Brasil passa vergonha internacional. São 300 dias de um dos crimes políticos mais bárbaros da história ainda sem justiça. Fórum precisa ter um jornalista em Brasília em 2019. Será que você pode nos ajudar nisso? Clique aqui e saiba mais Fórum - Em sua avaliação, o que é preciso fazer para evitar que os assassinatos caiam no esquecimento? Monica Benicio - Comprometimento e prioridade do Estado brasileiro, em parceria com a delegacia que está investigando o caso no Rio e Janeiro, ou que haja logo o deslocamento de competência para que o caso seja federalizado, considerando que são dez meses sem resultado efetivo. Além das organizações internacionais e da sociedade civil, todos devemos permanecer em vigilância para que não caia no esquecimento. Fórum - Durante todo esse período, alguma autoridade procurou você para atualizá-la sobre o andamento das investigações? Monica Benicio – Não! Eu somente sou informada quando vou cobrar. Fórum - Evidentemente você jamais vai esquecer ou se conformar com a perda de Marielle. Mas acredita que isso pode acontecer com a opinião pública, caso a solução dos crimes demore ainda mais? Monica Benicio - O tempo traz, de alguma forma, um “conformismo” com o passar do tempo. A ausência passa ser algo associada à rotina e o sentimento de indignação vira outra coisa. Não podemos permitir que a ausência da Marielle caia no conformismo. Para mim, no campo pessoal e político, não há possibilidade de me conformar. A vida da Marielle representava muitas vidas. Representava as vidas que esse Estado assassino julga descartável, que é a vida LGBTI, a vida Negra, a vida Favelada, e nós não podemos admitir isso. O fato de nos mantermos constantemente indignados com a execução da Marielle é dizer que não aceitamos essa sociedade tão desigual e que, sim, nossas vidas importam. Fórum - Na segunda-feira (7) você e Marielle completaram mais um ano de união oficial. Essas inúmeras datas marcantes servem também para que encontre mais forças para continuar a luta que é sua e era dela? Monica Benicio - Dia 7 era nosso aniversário de relacionamento. Foram muitos anos comemorando muitas datas felizes. Marielle amava comemorações e celebração da vida. Todos os muitos momentos maravilhosos que tivemos juntas, sem dúvida, me inspiram a seguir. Continuar nessa luta por ela é uma forma de estar com ela e tê-la presente diariamente. A construção de uma sociedade menos desigual e mais justa para todos era um sonho nosso. Para mim, continuar lutando pelo que sonhávamos juntas é uma forma de seguir dizendo “eu te amo, vamos juntas”. Fórum - O que você acha do fato de que Jair Bolsonaro não se pronunciou nenhuma vez sobre o caso e a necessidade de apuração? Monica Benicio – É lastimável que após uma semana da posse o presidente não tenha se pronunciado publicamente ou procurado a família para quaisquer esclarecimentos ou prestação de solidariedade, embora não me surpreenda. O silêncio ou omissão num caso como esse vira conivência. Um presidente sério não pode ser cúmplice de um dos crimes de maior repercussão desse país. Agora que você chegou ao final deste texto e viu a importância da Fórum, que tal apoiar a criação da sucursal de Brasília? Clique aqui e saiba mais