GENOCÍDIO YANOMAMI

Vacinas contra Covid-19 de Yanomamis foram desviadas por garimpeiros em troca de ouro

Em denúncia feita ao MPF a Hutukara Associação Yanomami alega que servidores do Distrito Sanitário Especial Indígena aceitaram o suborno no auge da pandemia

Profissionais de saúde atendem indígena yanomami com subnutrição.Vacinas contra Covid-19 de Yanomami foram desviadas por garimpeiros em troca de ouroCréditos: Fernando Frazão / Agência Brasil
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No auge da pandemia de Covid-19, em abril de 2021, garimpeiros que invadiam a Terra Indígena Yanomami, em Roraima, subornaram servidores do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y) para obter as vacinas destinadas aos indígenas. A denúncia é da Hutukara Associação Yanomami e foi enviada ao secretário especial de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde, e ao Ministério Público Federal.

Naquele momento, as vacinas ainda eram consideradas preciosas. O país não dispunha de doses abundantes para vacinação em massa, e as picadas eram reservadas para grupos de risco. Os povos indígenas, e em especial os Yanomami, se enquadravam na definição. O Brasil vivia uma segunda onda da pandemia e registrava as maiores médias diárias de mortes do período pandêmico.

“Ainda em janeiro fomos informados de que a então técnica de enfermagem do polo-base de Homoxi estaria desviando materiais do órgão, incluindo um gerador de energia a gasolina, em troca de ouro extraído ilegalmente no garimpo. Na mesma ocasião, fomos informados de que a funcionária do DSEI-Y estaria aplicando vacinas nos garimpeiros, igualmente em troca de ouro”, diz a denúncia da Hutukara Associação Yanomami.

Segundo a denúncia, não foi apenas na base de Homoxi que se registrou a prática, mas também em Uxiu. Nesse segundo local, funcionários estariam desviando medicamentos, não necessariamente vacinas, aos garimpeiros. O pedido de ajuda ao então ministro da Saúde Marcelo Queiroga foi um entre os mais de 20 feitos pelos Yanomami que o governo Bolsonaro ignorou.

Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara, lembrou a imprensa que em 2020 um relatório semelhante foi entregue à DSEI-Y. Em novembro de 2021 um novo ofício seria enviado pela associação para a Funai. Os indígenas estavam revoltados com o impedimento, imposto pelo órgão, da entrada de médicos no território.

“Nossa floresta está invadida por mais de 20 mil garimpeiros, e nós estamos preocupados com a saúde do nosso povo. O rio Mucajaí, onde seria realizado o diagnóstico dos médicos, é pura lama, e dele não podemos beber água ou tirar peixes. Acreditamos que tanto as crianças como os adultos estejam contaminados com mercúrio, desenvolvendo doenças perigosas”, diz o ofício.