Pablo Villaça deixa twitter por rede não coibir violência psicológica

Crítico de cinema sofre de depressão, postou uma mensagem alertando sobre os perigos da doença e recebeu um comentário abusivo e violento.

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Crítico de cinema sofre de depressão, postou uma mensagem alertando sobre os perigos da doença e recebeu um comentário abusivo e violento. Da Redação Uma postagem claramente abusiva, violenta e intolerante causou indignação no escritor e crítico de cinema Pablo Villaça, diretor do site Cinema em Cena. Portador de depressão, ele postou uma mensagem em seu twitter, alertando para os perigos dessa doença: “Vinte e oito anos lidando com a depressão e ainda me surpreendo com sua natureza traiçoeira e com sua habilidade de reconhecer os momentos precisos para atacar. Quase já me derrotou duas vezes. Mas não desta vez. Não desta vez”. Entre os muitos comentários de apoio, Villaça recebeu um agressivo: “Que pena! Vamos torcer para da próxima vez que ela venha mais forte!”. O crítico, então, resolveu denunciar a mensagem ao Twitter Brasil e a resposta obtida foi: “A mensagem enviada não se encaixa como ‘comportamento abusivo’. E, acreditem ou não, o e-mail resposta sugere que ‘pode parecer abusivo quando visto fora de contexto’”, escreveu em sua página no Facebook. “Esta, para mim, foi a proverbial ‘gota d'água’. Realmente não tenho interesse em fazer parte de uma rede social cujos responsáveis encaram mensagens como esta como algo aceitável. Pois são mensagens não apenas abusivas, mas perigosas. Assim sendo, já que o Twitter Brasil não enxerga o perigo desse tipo de mensagem, imagino que aquele é o tipo de postura que aprecia ver em suas redes - e não posso nem vou compactuar com isso; para mim, o Twitter seguirá morto como rede social enquanto aquele tipo de mensagem for encorajado. Passarei a usá-lo institucionalmente apenas, linkando automaticamente para meus textos e fim. O que me frustra é minha ingenuidade: achei que não houvesse qualquer dúvida quanto à natureza abusiva de alguém que envia mensagem a um depressivo em crise manifestando torcida para que a depressão o leve a se matar. Achei que fosse humanidade básica. Aparentemente, não para o Twitter”, escreveu. Ainda em sua página no Facebook, Villaça continuou o desabafo: “Chega um momento no qual a natureza tóxica das redes sociais torna-se gritante demais para compensar as coisas boas que elas podem (ou poderiam) trazer. Para mim, este momento já chegou há um bom tempo - e se eu não dependesse das redes para divulgar meu trabalho (que, afinal, é praticamente todo construído na Internet), já as teria abandonado. Mas hoje o Twitter foi além do limite. Antes, o contexto: em primeiro lugar, quero agradecer às inúmeras mensagens de carinho que recebi nos últimos dias - aqui e, sim, lá no Twitter. A depressão é um animal perigoso que você mantém encoleirado por algum tempo e que espera você cochilar para roer a coleira, escapar e te atacar. Discuti-la me ajuda a ficar “acordado”. Além disso, como já falei várias vezes, um dos agravantes da depressão é o tabu com o qual é tratada - aliás, o tabu e o preconceito. O tal do “você só precisa ser forte”, “você tem que se esforçar”, “falta Deus na sua vida”, “você não gosta da pessoa que você é” etc. Falar sobre a depressão é uma forma de expô-la como o que é: uma doença. Com tratamento, remissão, mas também recaídas e recidivas. E é uma doença que mata. Lido com ela há 28 anos e tomo medicação há 14. Faço análise (há 2) e tento me manter atento aos sinais de recaída. E mesmo assim estive a milímetros da morte duas vezes: há três anos e meio e há dois meses. Discuti ambas aqui. É por isso que buscar auxílio profissional é essencial. Porque mesmo com este auxílio a batalha não é fácil. Sem ele, em algum momento será perdida. Depressão não é “frescura”. É doença. E doença não se cura com “força de vontade”, mas com tratamento médico. Tampouco é “romântica”. Ou “sinal de uma alma sensível”, “excesso de empatia” ou “ser bom demais para esse mundo”. É - pela enésima vez - uma doença. Um desequilíbrio químico. Que pode ter, sim, um fundo psicológico. Ambos precisam de tratamento: o químico e o psicológico. No aspecto psicológico, as mensagens carinhosas enviadas por vocês são medicamentos, pequenas pílulas de amor. Li cada uma delas e todas me abraçaram um pouco, me confortaram. Obrigado por elas. Mas, entre todas essas mensagens, uma (sim, só uma) foi perversa. Enviada no twitter, foi venenosa, cruel, um sinal de sociopatia. E me senti obrigado a expô-la. Não porque dou mais atenção ao negativo do que ao positivo. Ao menos, não neste caso. Tive duas razões importantes pra fazer isso: 1) Desestabilizar um depressivo não é difícil - especialmente num momento de vulnerabilidade. E como acho importante falar sobre a doença e o faço com frequência, é como se pintasse um alvo nas costas. E quero que os companheiros de depressão saibam que existem pessoas que explorarão isso - e que temos que enfrentá-las. 2) A cada dia que passa, acho mais e mais fundamental que abandonemos a postura passiva, de conciliação, ao lidar com pessoas que se acham ideologicamente justificadas para pregar a destruição daqueles aos quais se opõem. É preciso expor essa gente, enfrentá-las. Você quer ser um escroto? Acha que não há limites para o que se pode dizer na Internet? Então vai ter que lidar com as consequências. E a exposição pública de sua canalhice é uma destas consequências. Assim, denunciei o perfil @mjgnardi através dos canais oferecidos pelo Twitter por ter me enviado a mensagem que acompanha este post. (O perfil no FB do sujeito é https://www.facebook.com/mjgnardi) A timeline do cara é uma sucessão de insultos, desejos de violência e provocações. Não por coincidência, ele se declara eleitor de Bolsonaro. Claro. Continuarei a publicar minhas críticas no www.cinemaemcena.com.br e farei a cobertura diária do Festival de Berlim no Instagram (pablovillaca). E não ficarei surpreso caso chegue um momento no qual deixarei esta página também apenas para publicações automáticas. Há limite para a persistência”, finalizou. Foto: YouTube