Patrícia Lélis: "O desonesto moralismo sobre a prostituição"

Hoje, entendo que todos que trabalham como profissionais do sexo devem ter seus direitos trabalhistas garantidos e, principalmente, serem devidamente respeitados.

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Hoje, entendo que todos que trabalham como profissionais do sexo devem ter seus direitos trabalhistas garantidos e, principalmente, serem devidamente respeitados. Por Patrícia Lélis* Confesso que este é um tipo de texto o qual nunca pensei que fosse escrever. E tudo começou de uma forma até ingênua. Fiz uma postagem na minha página pública do Facebook indicando um livro que recebi pelo correio, da querida Georgia Anunciação, que se chama “O Clube Da Puta”. A primeira coisa que leio, ao abrir o livro, foi que a regra número um do Clube da Puta é que não se fala sobre o Clube da Puta. Como boa aquariana, adoro quebrar regras. Então, farei isso mais uma vez. Já era de se esperar que conservadores moralistas fossem deixar comentários, tentando me ofender pela foto com o livro. Porém, foram mais além. Comecei a receber comentários e mensagens privadas um tanto quanto curiosas a meu ver. Perguntas do tipo “quanto custa sua hora?” e “onde você atende?" lotaram os comentários e, também, a minha caixa de mensagens privadas. Confesso que eu nunca trabalhei com isso, e também nunca tive intenção. Mas caso fosse a minha vontade não teria o menor problema, uma vez que não é crime e, diga-se de passagem, muito mais honesto do que "trabalhar" como deputado por 26 anos e aprovar apenas dois projetos de lei. Por curiosidade, resolvi olhar os perfis das pessoas que me mandavam essas mensagens, e para o meu espanto a maior parte dos homens que deixaram mensagens com esse teor, tinha fotos com suas esposas, namoradas ou noivas no Facebook, sem contar os que tinham publicações religiosas. Não precisei de muito esforço para começar a entender que são esses falsos moralistas que movimentam o mercado da prostituição. Sorte a deles que nesse tipo de caso os seus nomes e dados pessoais não se tornam públicos, pois se fosse o caso teríamos diversos pastores, homens casados, direitistas e conservadores queimando a língua. Os mesmos que denigrem a imagem de mulheres que trabalham como profissionais do sexo, as contratam. São esses homens que gostam de postar fotos de suas supostas famílias tradicionalmente perfeitas nas redes sociais, mas tiram o horário de almoço nos dias comercias para contratarem as “putas”. Afinal, são com essas mulheres que os conservadores satisfazem seus desejos e vontades. Então, mais uma vez, entendi que sobre esse assunto de prostituição os moralistas entendem, pagam, contratam com frequência, mas "vomitam" moralismo e conservadorismo ao ver as mulheres falaram abertamente sobre isso. Arrisco-me a dizer que este assunto se estende muito mais além de “putas” e contratantes, mas, a meu ver, envolve as mulheres em geral. Diversas delas fizeram questão de escrever nos comentários que o título do livro era a minha cara. Confesso que recebi isso como um elogio, uma vez que é um bom livro. Mas quero deixar aqui um reflexão que não me sai da cabeça: Pelo pouco que entendi, os conservadores são os que mais contratam, ou seja, os maridos, pais, irmãos, namorados, noivos de vocês. E mais uma vez temos uma grande falácia do moralismo conservador. Confesso que um dia eu fui contra regulamentar a profissão. Na época, por ser conservadora, eu não tinha o entendimento e conhecimento que tenho atualmente. Hoje, entendo que todos que trabalham como profissionais do sexo devem ter seus direitos trabalhistas garantidos e, principalmente, serem devidamente respeitados. A todos que perguntaram quanto eu cobro a hora, mais uma vez, ressalto que não trabalho com isso, e se alguém perguntou como uma tentativa de ofender, sinceramente não conseguiu, uma vez que enxergo isso como uma profissão digna. Antes que comecem as críticas infundadas, gostaria de já deixar registrado que sou contra a prostituição de menores, como qualquer outra pessoa que tenha bom senso também deve ser. *Patrícia Lélis é jornalista e ex-militante do PSC Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil/Fotos Públicas