Pediatra que hostilizou médicos cubanos compôs "comitiva da cloroquina" com Pazuello em Manaus

Cidade entra em colapso hospitalar com falta de oxigênio enquanto o Ministério da Saúde pressiona para que unidades de saúde da região usem substâncias que não têm eficácia comprovada contra a Covid-19

Reprodução/Instagram
Escrito en BRASIL el

Reportagem da coluna Painel, da Folha de S. Paulo, publicada neste sábado (16), revela que o Ministério da Saúde, além de pressionar a prefeitura de Manaus (AM) para que use cloroquina e ivermectina no tratamento de pacientes com Covid-19, ainda enviou à cidade, durante a visita do ministro Eduardo Pazuello no início da semana, uma "comitiva" de médicos que rodou unidades de saúde da capital amazonense para difundir o uso das substâncias que não tem eficácia comprovada contra a doença do coronavírus.

Entre os profissionais que fizeram parte da comitiva, está Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde da pasta. Foi ela quem assinou o ofício pressionando a secretaria de Saúde de Manaus a adotar "tratamento precoce" com os medicamentos sem eficácia e não recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Mayra ficou conhecida em 2013, quando fez parte da fatídica cena de médicos brasileiros que foram a um aeroporto para hostilizar médicos cubanos que chegavam no Brasil para participar do programa Mais Médicos.

A "força-tarefa da cloroquina" enviada a Manaus contou com cerca de dez médicos, entre infectologistas, oncologistas e até mesmo dermatologistas. O Ministério da Saúde não revelou quanto gastou para realizar a ação.

Dias após a visita de Pazuello à capital amazonense e a passagem da comitiva, a capital amazonense entrou em colapso hospitalar, com falta de oxigênio em todas as unidades de saúde e pacientes morrendo por asfixia.

Taxação de cilindros

Dias antes do colapso no sistema de saúde de Manaus, o governo Jair Bolsonaro tirou a isenção de imposto de importação para cilindros para armazenar gases medicinais. E oxigênio é um deles.

Uma série de equipamentos médicos e hospitalares tinha sido isentada de tarifa de importação por resolução da Câmara de Comércio Exterior (Camex) de 17 de março de 2020, para ajudar no combate à Covid-19. Mas boa parte deles voltou a ter a cobrança com a publicação de nova resolução, a de número 133, em 24 de dezembro de 2020.

Entre eles, estão os cilindros para oxigênio. Mas também voltou a ser cobrada tarifa de importação de outros produtos, como compressores de pistão medicinais para fornecimento de ar comprimido medicinais, geradores de oxigênio de adsorção para um sistema central de fornecimento de oxigênio de grau médico e filtros para ventilação mecânica. Há centenas de outros produtos listados, como roupas descartáveis para médicos usarem nas cirurgias e capacetes para proteção para uso em medicina.

Numa amostra de quais são as prioridades do governo Bolsonaro, a taxa de importação de armas foi isentada em resolução publicada no dia 9 de dezembro. Na visão do atual governo, comprar armas no exterior não precisa ter cobrança de imposto de importação. Mas cilindro para armazenar oxigênio, sim.