Privatização da Eletrobras é 'negociata de Bolsonaro com patrimônio público', diz diretor de associação

Ikaro Chaves desmente argumento de que venda aumentaria a concorrência e alerta para perigos de apagão em outras regiões do país

Ikaro Chaves (Divulgação)
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Por Luísa Fragão e Plinio Teodoro

O diretor da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras (Aesel), Ikaro Chaves, criticou o argumento utilizado pelo governo Bolsonaro para privatizar a estatal em busca de aumentar uma suposta concorrência e reduzir tarifas ao consumidor.

O secretário de Energia do Ministério de Minas e Energia, Rodrigo Limp, afirmou ao G1, nesta quinta-feira (25), que a privatização da Eletrobras não tem "aspecto arrecadatório". Para Ikaro, no entanto, o efeito será contrário.

"Se de fato o objetivo do governo fosse aumentar a concorrência, ele [governo Bolsonaro] deveria fatiar a Eletrobras e privatizar os pedaços. Não é esse o projeto. O projeto é criar uma grande empresa de capital privado, abertamente controlada por fundos de investimento estrangeiro que vai ditar o preço da energia elétrica do país", disse Ikaro.

"No Brasil isso [concorrência] é uma balela, você está tratando de um produto que é um monopólio natural. Você não pode construir uma hidrelétrica do lado da outra para concorrer, não existe essa possibilidade", completou.

Para o diretor da associação, o objetivo do governo, na verdade, é "fazer uma negociata com patrimônio público", já que, segundo ele, a Eletrobras é uma empresa "totalmente viável, lucrativa, apresentou quase R$ 30 bilhões de lucro nos últimos três anos e tem dinheiro em caixa".

Ikaro Chaves também alerta para os perigos de apagões similares ao do Amapá em outras regiões do país caso a estatal seja vendida.

"Caso haja a privatização, é evidente que esse risco vai aumentar. O setor elétrico funciona com tarifas fixas e, para aumentar a taxa de lucro, diminuem as despesas. E como diminuem? Fazendo projetos mau feitos, comprando equipamentos de péssima qualidade, não realizando manutenção preventiva. Foi exatamente isso que aconteceu no caso do Amapá, colocando a população em risco. Esse tipo de situação tem acontecido de forma recorrente em empresas privadas do setor elétrico e pode acontecer em qualquer lugar do país", conclui.