Professor sofre ameaça de eleitor de Bolsonaro por falar de Lei Rouanet em aula

Suposto responsável de um dos alunos disse que iria armado até a escola para tirar satisfação com educador

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Um áudio que está circulando nas redes sociais mostra um professor de História indignado com as ameaças que sofreu de um suposto pai de aluno, que ligou para a escola depois que o docente realizou uma aula sobre cinema. Segundo a pessoa que ligou para a instituição, ele estava fazendo da sala de aula um palanque e criticando o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). O caso aconteceu com o professor Euclides Tavares dos Santos, de 48 anos. O profissional leciona há anos em escolas públicas e privadas em Natal, Rio Grande do Norte, e foi surpreendido esta semana com as ameaças. Ele chegou até a fazer um boletim de ocorrência sobre o caso e segue visivelmente preocupado com a sua segurança e a repercussão que o caso tomou. Segundo ele, não era sua intenção que o áudio viralizasse. O professor afirma que mandou o recado em apenas dois grupos, mas que um deles “vazou” sua reação sobre a situação. Em entrevista à Fórum, Santos diz que a aula já tinha sido preparada e marcada com antecedência por ele e que estava funcionando em forma de seminário. No dia do ocorrido, um grupo de alunos falou sobre o cinema brasileiro e mostrou alguns trailers de produções famosas como "Tropa de Elite", "O Auto da Compadecida" e "Cidade de Deus". Nessa exibição, começaram a aparecer os patrocínios de empresas públicas e privadas, que todos os filmes têm. “Foi nesse momento que eu aproveitei e fiz o seguinte comentário: ‘Olha gente, perceba que a arte não existe sem patrocínio. Vocês viram que verdadeiras obras de arte chegaram até nós. O próprio governo incentiva isso, como com a Lei Rouanet’.”, explica o professor. Tudo se desencadeou por conta dessa observação do professor na sala de aula. “Não foi nenhum comentário partidário nem nada disso. Eu nunca fiz palanque das minhas aulas”, diz. O educador teria, então, sido avisado pela coordenadora da escola que um pai tinha ligado para ela gritando muito. Segundo esse suposto pai, o docente estaria defendendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua aula e criticando o candidato do PSL. Segundo Santos, o suposto pai teria mandado a coordenadora ir até o local onde ele estava dando aula para conferir o que o profissional estava fazendo. Quando ela perguntou o que o responsável queria que ela fizesse, ele teria dito: “Se você não fizer eu vou aí armado com mais dois pais e ele vai entender”, declara o professor. Segundo o profissional, esse recado foi apenas passado para ele, mas que nunca recebeu nenhuma ameaça direta. Foi nesse momento que ele diz ter se sentido acuado. “Eu fui ameaçado no exercício da minha profissão”, desabafa o professor, que conta que a coordenadora foi até a sala de aula e que os próprios alunos repudiaram a atitude do pai e defenderam o educador. Ele acredita que, provavelmente, um aluno mandou um WhatsApp para o pai falando o que estava acontecendo em sala de aula, mas que não soube explicar direito a situação. Depois de ter visto sua vida virar de cabeça para baixo nos últimos dias, Santos afirma que fez um boletim de ocorrência sobre o caso para se proteger e que está contando com a ajuda da escola para conseguir se recompor depois da ameaça. A reportagem da Fórum entrou em contato com a escola em que a situação aconteceu. Por telefone, Ana Cristina, que se identificou como coordenadora do local, negou que no telefonema tenha ocorrido uma ameaça. Segundo ela, não é possível nem dizer que foi mesmo um pai que ligou para o local. Ela afirma acreditar que foi um aluno se passando por responsável para dar um trote. Porém, ela garantiu que foi feita apenas uma reclamação por telefone, criticando o educador por supostamente estar falando de política nas suas aulas. Ana Cristina também afirmou que a escola está dando todo apoio ao professor e que está tentando descobrir quem foi a pessoa que ligou para a escola.