Professora de SP relata ameaças de integrantes de movimento que pede escolas abertas

Nelice Pompeu conta que recebeu mensagem intimidatória e foi fotografada, sem perceber, por integrantes do “Movimento Escolas Abertas”: “Passaram de todos os limites possíveis. Estava em uma situação de vida pessoal”

A professora Nelice Pompeu - Foto: Arquivo pessoal
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A professora de uma escola pública de São Paulo, Nelice Pompeu, denuncia que vem sofrendo perseguição e intimidação por parte de integrantes do “Movimento Escolas Abertas”. Trata-se de um grupo de pais e mães de alunos de instituições de ensino de elite, que apoia a reabertura das escolas para aulas presenciais, mesmo durante a pandemia da Covid-19.

Nelice conta que está passando por problemas financeiros e seu filho, acompanhando as dificuldades, se prontificou a vender o título que ele tinha do clube Pinheiros.

“Ele era sócio, eu não era, pois ele ganhou o título da família do pai. Nós conseguimos vender, mas teve todo um trâmite, pois tivemos de ir ao clube para assinar documentos”.

A professora revela que, em seguida, teve uma surpresa. “Quando eu peguei meu celular, vi que recebei mensagens, inclusive com foto minha, do pai do meu filho e da moça que comprou o título, vindas do WhatsApp do ‘Escolas Abertas’”.

A mensagem diz o seguinte: “Neliça... você também é gourmet. Clube Pinheiros, heim amore? Dar aula não pode, mas sair pra encontrar uma mamãe Vogue e vender o título tá valendo, né? Como diz o ditado: um dia a máscara cai”.

Indignada com a invasão de privacidade, Nelice logo pensou: “Como elas sabiam que eu estaria no clube com meu filho vendendo o título dele? Além do mais, era sábado, eu não estava em horário de trabalho e não posso ter minha vida pessoal invadida dessa maneira, por um bando de burguesas bolsonaristas”, afirma.

A professora se diz assustada e vê o ato como “intimidação, ameaça e ofensa. Passaram de todos os limites possíveis. Já procurei minha advogada, vou comunicar o clube, não que o clube seja responsável, mas eles vão ter que tomar algum tipo de providência. Eu estava em um espaço do clube, sendo fotografada”.

“Essas mães são extremamente perigosas, estão toda hora em Brasília, inclusive reunidas com integrantes do governo Bolsonaro. Não sei que tipo de ameaça posso estar sofrendo, pois eu estava em uma situação de vida pessoal e fui fotografada”, completa Nelice.

Antecedente

Não é a primeira vez que a professora relata problemas com integrantes do “Movimento Escolas Abertas”.

Em janeiro, uma comissão formada por profissionais de educação e pais de alunos da rede pública de São Paulo foi recebida por técnicos da secretaria municipal de Saúde para uma reunião sobre a volta presencial das aulas.

Ao chegar ao prédio da secretaria de Saúde, a comissão foi recepcionada por integrantes do “Escolas Abertas”. O movimento, que desde o início de 2021 tenta impor a volta presencial das aulas, é composto majoritariamente por pais e mães de estudantes e teria sido formado em um grupo de WhatsApp de pais da Saint Paul’s School, escola de elite, com mensalidades entre 7 e 8 mil reais e onde estudam os filhos do governador João Doria (PSDB).

À época, na página do “Escolas Abertas” no Instagram, foi divulgada uma convocatória para um panelaço em frente à secretaria de Saúde para o mesmo dia e horário em que ocorreu a reunião dos professores que são contra a volta às aulas. “COMO É UM JOGO POLÍTICO e não uma decisão baseada em ciência, A PRESSÃO DE QUEM É FAVORÁVEL PRECISA SER MAIOR DO QUE DE QUEM É CONTRA!”, dizia a postagem.

Nelice, que é contra a reabertura das escolas e esteve na reunião, contou que o objetivo do ato do "Escolas Abertas", na ocasião, foi hostilizar o grupo que é contrário ao retorno das aulas, tanto é que o panelaço terminou assim que a comissão de professores subiu para a reunião com os técnicos da secretaria.

“Uma (mãe de aluno) veio me peitar, quase agressão física mesmo”, relatou, informando, ainda, que foi ofendida diretamente por uma mulher que puxava o ato com um microfone do alto de um carro de som. A professora teria sido xingada de “vagabunda” e que “não quer trabalhar”.

Ela conta que desde janeiro vinha sendo intimidada, ofendida e exposta nas redes sociais por apoiadores do movimento.

A Fórum tentou contato com o “Escolas Abertas”, pelo número de celular que consta na página do grupo no Facebook, o mesmo que mandou mensagens para Nelice. Até o momento, não houve retorno.