Um adolescente de 15 anos foi acusado de roubo por um vendedor da loja Centauro do shopping Center Norte, em São Paulo. Segundo relato da mãe do menino, Kamila Silva, ele e o pai, que são negros, foram abordados na porta do estabelecimento sobre o sumiço de um relógio e informados que precisariam ser revistados.
A abordagem foi feita por um segurança acionado pelo vendedor da Centauro e na frente de outros clientes.
"Meu esposo (friamente) questionou se eles poderiam provar a acusação e pediu para que eles acionassem a polícia, dado que ninguém ali tinha autoridade para revistá-los", contou Kamila.
De acordo com ela, seguiu-se uma longa discussão cheia de acusações sem fundamento - os funcionários sequer checaram as câmeras - e, após uma reunião de equipe, informaram que "decidiram não chamar a polícia", mas mantiveram o posicionamento sobre o roubo. "Nem em meus piores pesadelos imaginei um filho passando por isto", escreveu a mãe do garoto.
Família registrou Boletim de Ocorrência
O caso foi registrado como preconceito racial pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. Para a família do adolescente, a abordagem e a suspeita aconteceram devido ao racismo.
No Boletim de Ocorrência, ao qual o UOL teve acesso, o pai do jovem, o motorista José Luís dos Santos Neto "informa que se sentiu constrangido e humilhado, principalmente pelo fato de terem acusado seu filho de ter furtado um produto sendo que tal fato não ocorreu, o que deixou o adolescente nervoso e até tremendo no momento."
"Bem como, por terem sido alvo de olhares de desprezo, por todos dentro e fora da loja Centauro, levando as vítimas a entenderem que foram vítimas de um episódio de racismo em razão da cor de sua pele, tendo em vista serem de cor negra", continua o BO.
"Ressalta o declarante que quando voltou para questionar a loja não viu nenhuma outra pessoa dentro da loja de raça negra ou cútis preta", completa.
Em resposta à publicação de Kamila, feita no Linkedin, a Centauro respondeu de forma genérica que estaria "apurando os fatos com prioridade e com a profundidade que o caso exige". "Gostaríamos que você soubesse que não toleramos atos de injustiça ou de discriminação e preconceito. A abordagem relatada não faz parte das nossas práticas e não reflete nosso posicionamento e valores", finalizou.