Radialista de Campinas (SP) é ameaçado por bolsonarista armado e pede proteção

Jerry de Oliveira, figura atuante no universo das rádios comunitárias no país, afirma que a polícia não dá atenção para caso. Comunicador vem tentando, sem sucesso, entrar para programa que protege jornalistas

Foto: Arquivo pessoal.
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O radialista Jerry de Oliveira, da Rádio Noroeste, de Campinas (SP), está vivendo um drama há pouco mais de um mês. Tudo começou em 9 de setembro, quando o comunicador afirma ter sido abordado por um homem de seu bairro, chamado Lourival Bento, que o questionou sobre uma pauta que vinha sendo tratada num programa do qual Jerry participa. Tratava-se de uma manifestação para evitar o fechamento do período noturno de aulas de uma escola estadual, demanda para qual os moradores e ouvintes da rádio até tiveram êxito. Mas a conversa não parou por aí.

“Essa pessoa, depois de perguntar sobre a questão da escola, me falou assim: ‘quem é o político por trás disso? Vocês não vão ficar falando mal do Bolsonaro, não, né?’ Aí eu disse que não tinha político algum e que a rádio era um lugar democrático e que ali as pessoas podiam se expressar... Foi então que ele apontou o dedo na minha cara e disse: ‘você não vai falar mal do Bolsonaro, porque se falar eu vou te matar’... Não entendi muito bem o que estava acontecendo, peguei o carro e saí dali”, contou Jerry.

Mais à frente, o radialista conta que foi fechado por um Audi branco. Do veículo desceu um rapaz, de arma na mão, que foi em sua direção e teria dito: “Aqui ninguém mais vai falar mal do Bolsonaro. Aqui, quem manda ‘é nóis’”. Jerry relata que, muito assustado, deu ré e saiu em disparada, dirigindo até um local seguro. Segundo ele, o jovem que o ameaçou é o filho de Lourival Bento.

Os fatos narrados pelo comunicador teriam ocorrido momentos antes de um ato político organizado pela comunidade para protestar contra o fechamento das aulas noturnas da escola estadual. Jerry conta que chamou a Polícia Militar para relatar o que havia ocorrido e para pedir que os agentes acompanhassem a manifestação, evitando qualquer problema, o que teria sido atendido pelos policiais. Só que no dia seguinte, as ameaças voltariam e de forma mais intensa.

“A pessoa que me ameaçou antes do ato gravou um vídeo, no qual assume as ameaças e a tentativa de atentado contra mim, e divulgou nas redes sociais reiterando o que havia dito e fazendo novas ameaças. Só que ele disse outras coisas e revelou no vídeo que, por eu ser uma pessoa ligada ao PT, por já ter sido dos Sem Terra, por eu ser de esquerda, a polícia já estaria atrás de mim há um tempo para me matar”, explicou.

“Quando ele falou isso, sobre a polícia querer me matar, deu a entender que ele estaria sendo acobertado ou ajudado pela polícia... E realmente, quando fomos ao à delegacia, os policiais sequer queriam nos ouvir, sequer queriam ver o vídeo com as ameaças... Os policiais não quiseram ir ao local em que fui fechado e ameaçado com a arma para pegar vídeos de segurança do comércio local, com as imagens do crime, enfim... Acabamos indo à Ouvidoria das Polícias”, concluiu.

A ocorrência foi registrada no 8° Distrito Policial de Campinas, no Conjunto Habitacional Padre Anchieta. O comunicador disse ainda que, com o auxílio do advogado e de amigos, conseguiu juntar informações e provas para ver se dessa forma a polícia agiria. Só que ele conta que de nada adiantou o esforço.

“Nós fomos atrás por conta própria, reunimos provas, ameaças que estavam espalhadas nas redes, descobrimos que o autor da ameaça armada já tinha cometido um crime político em outra cidade, mas ainda assim o delegado não muda sua posição em relação ao caso... Ele apenas trata o que ocorreu como se fosse uma briga de bar”, reclama o radialista.

Por fim, Jerry torce para que o caso ganhe repercussão para que seu nome possa ser incluído no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH), que garante segurança permanente, desde 2018, também a jornalistas e profissionais da comunicação que venham sendo seriamente ameaçados em decorrência de sua atuação profissional.

Em nota enviada à Revista Fórum, a polícia informou que o caso é investigado pelo 8º DP de Campinas. "Os laudos relativos às imagens e áudios apresentados pela vítima estão em elaboração. Paralelamente, a unidade seguiu com as diligências para complementar os dados iniciais apresentados e identificar o suspeito", disse. Segundo a corporação, Lourival Bento foi intimado juntamente com outro envolvido para prestar esclarecimentos. No último dia 13, Jerry compareceu na delegacia com advogado e uma testemunha, que foi ouvida na mesma data.