Rede promove ato em Abadiânia em solidariedade às vítimas que denunciaram João de Deus

O Dia de Enfrentamento às Violências Sexuais contra Crianças e Adolescentes será marcado pela referência ao caso considerado na atualidade como o maior crime sexual em série do mundo

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Em 2019, a Rede de Atenção a Crianças, Adolescente, Mulheres e Idosos em Situação de Violência de Goiânia e o Fórum Goiano pelo Fim da Violência e Exploração Sexual Infanto Juvenil elegeram a cidade de Abadiânia-GO para realizar um grande ato de solidariedade às vítimas que denunciaram João Teixeira de Faria. O caso “João de Deus” - como é popularmente conhecido, é considerado na atualidade como o maior crime sexual em série do mundo. Mais de 314 vítimas - dentre elas algumas sofreram as violências quando ainda eram adolescentes - foram violadas sexualmente por um único homem ao longo de quase 4 décadas. A denúncia mais antiga foi registrada em 1973, mesmo ano em que ocorreu a violência sexual cometida contra a menina Araceli Cabrera Sanches, que foi sequestrada em 18 de maio de 1973, drogada, espancada, estuprada e morta por membros de uma tradicional família capixaba. Araceli tornou a criança símbolo do dia 18 de maio, Dia Nacional de Enfrentamento às Violências Sexuais Contra Crianças e Adolescentes. Uma mulher acusa João Faria de tê-la estuprado, tentado assassiná-la com três tiros e jogá-la em um rio, em 1973. Em entrevista em programa de TV, a referida denunciante afirmou que quando tinha 17 anos acompanhou uma tia que buscava tratamento espiritual à Casa de Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO). Na ocasião, o médium teria abordado a jovem e a levado de carro até uma área rural, próximo à cidade e: “Sob uma ponte, João a teria estuprado. Ela afirma que após o abuso sofreu uma hemorragia, o que teria assustado o médium, que desferiu um golpe com uma pedra em sua cabeça e efetuou três tiros. Ainda ao Fantástico, ela conta que o médium jogou o seu corpo em um rio. Mais tarde, ela foi resgatada por um pescador” (GAÚCHAZH). Programação do Ato em Solidariedade – 18 de maio Ato em solidariedade às 314 vítimas de violências sexuais acontecerá na BR 060 nas proximidades da entrada de Abadiânia – Goiás, no dia 18 de maio a partir das 8 horas. Na programação está prevista uma blitz educativa com o objetivo de orientar condutores de veículos sobre a importância de denunciar as situações de suspeita ou casos confirmados de violências sexuais contra crianças e adolescentes, incluindo a exploração sexual. Na abordagem acontecerá a distribuição de brindes para condutores e passageiros e o adesivaço de carro. 16 artistas circenses do Circo Laheto participarão da atividade educativa na BR. A Intervenção artística “Asas da libertação da VERDADE, protagonizada pelo artista plástico Siron Franco, acontecerá às 8:45 com uma revoada de mais de mil pombos de corrida. Após a revoada será feito o plantio de 314 ipês em homenagem às meninas e mulheres que foram vítimas de violências sexuais. Análise de dados de violência sexual em crianças e adolescentes residentes em Goiânia, que foram notificados no ano de 2018 No ano de 2018, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN-Net) da Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Goiânia registrou um total de 2.286 notificações de violência (dados extraídos em 09/04/2019), sendo que 1.410 (61,7%) são de residentes desse município; onde 47,6% (672) correspondem a crianças e adolescentes. A violência sexual nessa faixa etária corresponde ao quarto tipo mais notificado dentre todos os tipos de violência, totalizando 170 notificações em menores de 20 anos residentes em Goiânia. Quando se analisa crianças e adolescentes de ambos os sexos separadamente, observa-se que a violência sexual é a segunda mais notificada em crianças (<10 anos) depois de negligência, sendo a terceira mais registrada em adolescentes (10 a 19 anos), após lesão autoprovocada e violência física, respectivamente. A maioria das notificações de violência sexual nessa análise refere-se ao sexo feminino com aproximadamente 92% dos casos. Quando se analisa a faixa etária de meninas de 5 a 14 anos, essa violência é a primeira mais notificada. Entre os autores dessa violência, 46% foram cometidas por familiares, seguido de amigos e pessoas conhecidas (25,8%). Em ambos o sexo, ao se estratificar por faixa etária, somente de 14 a 19 anos, o autor mais notificado foi o desconhecido. A grande maioria das violências sexuais foram cometidas por pessoas do sexo masculino, representando  88% dessas notificações. Registrou-se que cerca de 70% das violências sexuais em crianças e adolescentes ocorreram na residência. Dentre todos os tipos de violência sexual registrados, o estupro foi encontrado em 77,6% (132 casos), seguido pelo assédio sexual em 23,5% (40 casos), observando então, que há vítimas que sofrem mais de um tipo de violência sexual. História do 18 de maio “Em 1973 um crime bárbaro chocou o Brasil. Seu desfecho escandaloso seria um símbolo de toda a violência que se comete contra as crianças. Com apenas oito anos de idade, Araceli Cabrera Sanches foi sequestrada em 18 de maio de 1973. Ela foi drogada, espancada, estuprada e morta por membros de uma tradicional família capixaba. O caso foi tomando espaço na mídia. Mesmo com o trágico aparecimento de seu corpo, desfigurado por ácido, em uma movimentada rua da cidade de Vitória (ES), poucos foram capazes de denunciar o acontecido. O silêncio da sociedade capixaba acabaria por decretar a impunidade dos criminosos. Os acusados, Paulo Helal e Dante de Brito Michelini, eram conhecidos na cidade pelas festas que promoviam em seus apartamentos e em um lugar, na praia de Canto, chamado Jardim dos Anjos. Também era conhecida a atração que nutriam por drogar e violentar meninas durante as festas. Paulo e Dantinho, como eram mais conhecidos, lideravam um grupo de viciados, que costumava percorrer os colégios da cidade em busca de novas vítimas. A capital do estado era uma cidade marcada pela impunidade e pela corrupção. Ao contrário do que se esperava, a família da menina silenciou diante do crime. Sua mãe foi acusada de fornecer a droga para pessoas influentes da região, inclusive para os próprios assassinos. Apesar da cobertura da mídia e do especial empenho de alguns jornalistas, o caso ficou impune. Araceli só foi sepultada três anos depois. Sua morte ainda causa indignação e revolta” (Fonte: site da Campanha Faça Bonito). Mobilização para a data “O dia 18 de maio foi instituído em 1998, quando cerca de 80 entidades públicas e privadas, reuniram-se na Bahia para o 1º Encontro do Ecpat no Brasil. O evento foi organizado pelo Centro de Defesa de Crianças e Adolescentes (CEDECA/BA), representante oficial do Ecpat, organização internacional que luta pelo fim da exploração sexual e comercial de crianças, pornografia e tráfico para fins sexuais, surgida na Tailândia. O encontro reuniu entidades de todo o país. Foi nessa oportunidade que surgiu a ideia de criação de um Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual Infanto-Juvenil. De autoria da então deputada federal Rita Camata (PMDB/ES) - presidente da Frente Parlamentar pela Criança e Adolescente do Congresso Nacional -, o projeto foi sancionado em maio de 2000. Desde então, a sociedade civil em Defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes promovem atividades em todo o país para conscientizar a sociedade e as autoridades sobre a gravidade da violência sexual. O Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes vem manter viva a memória nacional, reafirmando a responsabilidade da sociedade brasileira em garantir os direitos de todas as suas Aracelis” (Fonte: site Campanha Faça Bonito). Importante lembrar que em 2017, o Disque 100 - do Ministério dos Direitos Humanos, registrou 15.707 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes no país. Por sua vez, a Polícia Rodoviária Federal registrou e existência de 2.487 pontos vulneráveis à exploração sexual contra crianças e adolescentes, em 2018, sendo 185 em Goiás. Esse número é superior ao do penúltimo levantamento da polícia, que registrava 175 pontos em Goiás. Ressalta-se, que além do ato em Abadiânia/GO, outras atividades de mobilização e enfrentamento às violências sexuais de crianças e adolescentes acontecerão em Goiânia, além de outras cidades do interior de Goiás, como caminhadas, seminários e palestras em escolas, universidades, dentre outras. REALIZAÇÃO: Rede de Atenção a Crianças, Adolescente, Mulheres e Idosos em Situação de Violência de Goiânia Fórum Goiano pelo Fim da Violência e Exploração Sexual Infanto Juvenil Núcleo de Vigilância às Violências e Promoção da Saúde de Goiânia - SMS de Goiânia PARCEIROS: Associação Brasileira Espírita de Direitos Humanos e Cultura de Paz (AbrePaz) Associação Mães da Sé Associação Goiana dos Criadores dos Pombos de Corrida – AGCPC Associação Mais Árvores Combate ao Abuso no Meio Espiritual (COAME) Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno Comitê Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) Conselheiros Tutelares de Goiânia Governo do Estado de Goiás - Viva Goiás – SUVISA e SEST-SUS\SES Grupo Vítimas Unidas Instituto Rizzo Mandato Adriana Accorsi Prefeitura Municipal de Goiânia – SMS\SME\SEMAS\AMMA Polícia Rodoviária Federal (PRF) Projeto Vira Vida SEST/SENAT