“Reduzir Greta a um diagnóstico é a síntese do processo de exclusão social”, diz psiquiatra

Greta Thunberg se tornou o novo alvo de uma onda de ataques e de disseminação de fake news nas redes sociais, que exploram o fato da jovem apresentar Transtornos do Espectro Autista (TEA) para deslegitimar sua militância em causas ambientais

A ativista sueca contra a crise climática, Greta Thunberg (Foto: Cherwell.org)
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A ativista ambiental sueca Greta Thunberg se tornou o novo alvo de uma onda de ataques e de disseminação de fake news nas redes sociais. Comentários machistas, carregados de pedofilia e mentirosos lotaram as redes após o discurso dela na Cúpula do Clima da ONU em Nova York, nesta segunda-feira (23).  Só nesta semana, pelo menos quatro jornalistas a atacaram em diferentes rádios e emissoras do país, levando a demissão de alguns deles e rechaço nas redes sociais. "Retardada", "vagabundinha" e "histérica" foram alguns dos adjetivos usados por tais profissionais, que exploram o fato de que Greta se apresenta Transtornos do Espectro Autista (TEA) para deslegitimar sua militância internacionalmente reconhecida em causas ambientais. Para a psiquiatra Graccielle Asevedo, vice-coordenadora do Ambulatorio de Cognição Social (TEAMM) da UNIFESP e especialista em infância e adolescência, o estigma relacionado aos transtornos mentais é uma das maiores barreiras para a inclusão. Termos como “esquizofrênico”, “autista”, “retardado”e “doente mental” são alguns dos responsáveis pelo estigma e marginalização de pessoas com transtornos mentais e outras deficiências. "É imprescindível entender que falar sobre autismo não é falar sobre Greta Thunberg. Greta possui vivências, histórias, qualidades e defeitos como todos nós. Reduzi-la a um diagnóstico é a síntese do processo de exclusão social", disse Graccielle, em entrevista à Fórum. Como especialista neste assunto, a psiquiatra elogia o fato de Greta falar aberta sobre o seu diagonóstico, pois isso ajuda a compreender melhor o autismo e destruir barreiras causadas pelo desconhecimento. "Entretanto, se discutimos apenas o autismo, e não as questões ambientais trazidas por ela, estamos tirando de Greta o direito de se expressar e de lutar pelas causas em que acredita. Precisamos ter cuidado para não classificarmos como defeitos as dificuldades inerentes aos Transtornos do Espectro Autista, mas é um desrespeito trazer toda a discussão para o autismo ou tentar desqualifica-la por seu diagnóstico", acrescenta. Por conta de todos os ataques que tem sofrido nas redes sociais e na imprensa brasileira, a hashtag #DesculpaGreta entrou para um dos assuntos mais comentados no Twitter nesta quinta-feira (26). A solidariedade dos internautas veio em resposta à publicação mentirosa do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) sobre Greta, acusando-a de ser financiada pelo milionário George Soros. Uma imagem manipulada também foi publicada, onde Greta aparece comendo em frente da crianças africanas. No entanto, na imagem original, publicada pela adolescente em suas redes sociais no começo do ano, Greta está dentro de um trem sentido a Dinamarca.