Reorganização de escolas gera revolta de pais e mães em Contagem (MG)

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Projeto da Prefeitura, que divide alunos por ciclos, pode atingir 10 mil estudantes, no início de 2018 Por Rafaella Dotta, no BdF Professores, pais e estudantes estão insatisfeitos com proposta da Prefeitura de Contagem. A Secretaria Municipal de Educação pretende fazer uma reorganização do ensino infantil e fundamental que pode atingir, já no início de 2018, o cotidiano de 10 mil alunos. Protestos em portas de escolas acontecem desde que a proposta começou a ser anunciada, em 30 de novembro. Ajude a Fórum a fazer a cobertura do julgamento do Lula. Clique aqui e saiba mais. A “Reorganização Escolar” irá desenhar uma nova divisão das séries distribuídas nas escolas,? incluindo? inicialmente 30 das 115 ?instituições. ?As? escolas ?municipais passariam a ser "especializadas" em um determinado ciclo, ao invés de fornecer vários ciclos. Por exemplo, a Escola ?Municipal ?El?i? Horta não mais ofereceria ensino d?o ?1° ao 9° ano, ou seja, do primeiro ao terceiro ciclo,? mas se concentraria ?em oferecer do 6º ao 9º, o terceiro ciclo. ?A prefeitura de Contagem defende que a mudança irá criar 2.351 vagas para crianças de 0 a 5 anos, em 2018, possibilitando o atendimento de todos os estudantes de 4 e 5 anos que estão em espera de vaga. O número corresponde a um aumento de 4,2% nas vagas em geral. A prefeitura divulga também que as aulas de inglês começarão no 1º ano, ao invés de começarem no 4º ano e haverá maior facilidade para a unificação do currículo escolar de 1º a 9º ano. Atualmente, cada escola possui seu próprio método pedagógico. Mães e pais criticam proposta Mães e pais de alunos levantam uma série de problemas sobre esta reorganização. Laísa Aghata, que é mãe de três crianças, reclama que seu bairro ficará sem nenhuma escola e que isso fere a cultura dos moradores locais. "Embora a direção [da escola] tenha feito um acordo, a população do bairro não concorda. Somos um bairro tradicional, de mais de 60 anos", diz. As escolas municipais Pedro Pacheco e Francisco Borges serão fechadas, transformando-se em um prédio da Secretaria de Educação e uma UMEI, respectivamente. ?Na opinião da professora de inglês Liriana Nazaré Silva, ?a Secretaria? desconsidera as condições? e opinião de? estudantes, pais e professores.? É provável que pais e mães com mais de um filho precisem levar cada um a uma escola diferente. O projeto calcula a distância de no máximo 1,5 km entre escolas do mesmo ciclo. Porém, lembra Liriana, não calcula a distância que mães terão que percorrer. A professora analisa ainda que a reorganização teria o objetivo de aumentar a nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para a educação de Contagem, com funções de propaganda eleitoral. A cidade ?obteve 5,9 na avaliação do I?d?eb em 2015 e? não atingiu? ?o valor mínim?o? ?(6,0) estipulado pelo Ministério da Educação. A nota do Ideb é feita por uma prova de Português e Matemática somada ao índice de aprovação dos estudantes.? Por isso, segundo Liriana, a Reorganização Escolar propõe o aumento das aulas destas disciplinas. Reginaldo Pereira do Carmo?, diretor do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (SindUTE) subsede de Contagem, alerta para dois problemas principais para os professores. O projeto resultará no aumento de estudantes por sala, sobrecarregando os trabalhadores, e o aumento da contratação terceirizada, especialmente para educação física e de inglês. ?Ainda sem soluções ?Depois dos protestos feitos nas portas e arredores das escolas, professores e pais de estudantes forçaram reuniões de negociação com a Secretaria Municipal de Educação. Até o momento nenhum acordo foi fechado, segundo a professora e diretora estadual do SindUTE Patrícia Pereira. “O resultado concreto tem sido colocar a cidade para discutir o papel da escola. Da parte da prefeitura até o momento, não houve nenhum recuo”, analisa. Patrícia afirma que a Secretaria não flexibilizou o projeto e mantém a reorganização para o início de 2018, independente da vontade de pais e professores. Ela informa que a comunidade escolar pretende acionar o Ministério Público Estadual e a Vara da Infância e Juventude. A Câmara dos Vereadores de Contagem prepara um documento pedindo que o projeto seja adiado e que se fortaleça o diálogo entre os lados da polêmica. 5 principais críticas 1. A mudança recorrente de escola pode ser prejudicial às crianças. Elas terão que mudar de escola sempre que terminarem um ciclo de ensino 2. A reorganização aumenta o número de escolas em que uma mãe ou pai terá que levar seus filhos. Acaba a possibilidade de os irmãos mais novos irem junto com irmãos mais velhos 3. Há sinais de que professores serão terceirizados 4. Aumenta-se a facilidade para uma massificação de currículos pedagógicos. As escolas perdem sua autonomia de ensino, inscrita no artigo 206 da Constituição Federal e na Lei de Diretrizes Básicas da Educação (LDB) 5. O projeto foi elaborado sem a participação dos principais envolvidos: estudantes, pais e professores A mesma "reorganização"? de Alckmin O projeto da Prefeitura de Contagem tem inúmeras semelhanças com o plano de Reorganização Escolar que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), tentou implantar há dois anos nas escolas paulistas. Alckmin sofreu uma enorme resistência organizada pelos estudantes. Sob o lema "Não Feche a Minha Escola" alunos ocuparam cerca de 200 instituições de ensino por dois meses. Segundo o sindicalista Reginaldo Pereira, tanto Alckmin quanto Alex de Freitas, prefeito de Contagem e que também é do PSDB, receberam consultoria do instituto Kroton Educacional para a elaboração do projeto. A Kroton é, desde 2016, a maior empresa de educação do país. Foto: Patrícia Pereira