"Se eu puder dar o filé mignon, dou": 10 fatos que mostram a "mamata" do governo Bolsonaro

Não foi só com os milhões gastos em leite condensado e outras guloseimas que o governo Bolsonaro se lambuzou. Ao longo de seu mandato, o presidente deu inúmeras provas de que a "mamata" é um padrão de sua gestão; confira

Meme que circula nas redes sociais ironizando a "mamata" de Bolsonaro (Reprodução)
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"Acabou a mamata!". Assim Jair Bolsonaro e seus apoiadores repetiam, aos quatro ventos, quando venceram as eleições em outubro de 2018. No ápice do movimento político antipetista, que tinha como base o discurso anticorrupção, o então deputado federal alçou sua candidatura à presidência da República prometendo por fim a privilégios relacionados ao uso da máquina pública, prática conhecida pelo termo pejorativo de "mamar nas tetas do governo".

Nesta terça-feira (26), a partir de um levantamento feito pelo site Metrópoles sobre os gastos milionários do Executivo Federal com compras de supermercado em 2020, a palavra "mamata", desta vez de forma irônica, voltou à tona.

Isso porque descobriu-se que o governo gastou R$1,8 bilhão nessas compras, que incluem, entre outros produtos de necessidade questionável, R$15 milhões gastos somente com leite condensado. Além dos itens de "cesta básica”", chamam atenção os R$ 16,5 milhões gastos em batata frita embalada, R$ 13,4 milhões em barra de cereal, R$ 12,4 mi em ervilha em conserva, R$ 21,4 mi em iogurte natural. Só em goma de mascar, foram R$ 2.203.681.

Parlamentares, como os deputados Helder Salomão (PT-ES) e Marcelo Freixo (PSOL-RJ), já entraram com pedidos de instalação de CPI para apurar os gastos exorbitantes. Já Ciro Gomes (PDT) aponta que as compras indicam corrupção e, por isso, reuniu material para entregar ao Ministério Público Federal (MPF) e acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para que a Corte obrigue o governo a explicar os gastos.

Se Jair Bolsonaro está se lambuzando com leite condensado ou com dinheiro de corrupção travestido de compras ainda cabe à Justiça determinar. O fato, no entanto, é que desde que assumiu o Planalto o atual governo deu inúmeros exemplos de que a "mamata", prática que prometia acabar, não só não acabou como se tornou praticamente um padrão.

Confira em 10 exemplos.

1 - Promoção relâmpago do filho de Mourão

Em janeiro de 2019, logo na primeira semana de governo de Jair Bolsonaro, Antônio Hamilton Rossell Mourão, filho do vice-presidente, Hamilton Mourão, teve uma promoção relâmpago no Banco do Brasil e foi alçado ao cargo de assessor especial da presidência da estatal. Funcionário de carreira do banco há 18 anos, Rossell Mourão vinha atuando há 11 anos como assessor na área de agronegócio da instituição, ganhando cerca de R$ 12 mil mensais. Com o novo cargo, ele mais que triplicou seu salário, passando a ganhar R$ 36,3 mil por mês.

"Ele não tem qualificação para ser nomeado em um cargo que tivesse que ser justificado, e aí tiveram que jogar para a assessoria do presidente, que não precisa justificar junto ao Banco Central. Então, encontraram uma saída meio ortodoxa pra fazer a nomeação, que deve ter sido a pedido do próprio Mourão", disse à Fórum à época, o presidente do Sindicato dos Bancários do Distrito Federal, Eduardo Araújo.

Em julho de 2019, o filho de Mourão assumi gerência executiva de Marketing e Comunicação do BB, mantendo o mesmo salário de mais de R$36 mil.

2 - "Se puder dar o filé mignon para meu filho, dou, sim" 

Apesar da tentativa ter sido frustrada, Jair Bolsonaro bem que quis dar uma "mamata" para seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Em 2019, o presidente afirmou que indicaria o parlamentar par o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, onde dobraria seu salário.

A ideia de indicar seu próprio filho foi vista por internacionalistas como nepotismo e, em meio às críticas, Bolsonaro deixou claro que sua intenção não era acabar com privilégios, conforme prometia.

“É filho meu, pretendo beneficiar, sim”, disparou. Não satisfeito, Bolsonaro ainda foi além. “Se eu puder dar o filé mignon para o meu filho, eu dou”, declarou.

3 - Farra nos voos da FAB

Em julho de 2019, Jair Bolsonaro deu carona para parentes em um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) para que eles pudessem ir ao casamento de seu filho Eduardo Bolsonaro.

De acordo com decreto 4.244/2002, os voos oficiais em aeronaves da FAB são somente para o transporte de vice-presidente, ministros do Estado, chefes dos três Poderes e das Forças Armadas, salvo nos casos em que há autorização especial do ministro da Defesa.

Apesar de ser um desrespeito ao decreto, a prática é comum no governo Bolsonaro. Em maio daquele ano, a esposa do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, passou férias em Paris e foi até a capital francesa em um voo da FAB que levava uma delegação do governo, incluindo o seu marido, para o encontro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O presidente, porém, ainda tentou justificar a mamata: "Se um avião presidencial nosso vai para algum lugar a serviço, não vejo nada demais levar alguém no avião. Não vejo nada demais nisso aí. Agora, se está errado, se tiver alguma norma dizendo o contrário, eu vou conversar com ele".

4 - Cargo para o amigo demitido

Demitido em janeiro após ter usado avião da Força Aérea Brasileira (FAB) em viagem internacional à Índia, Vicente Santini, ex-número 2 do Ministério da Casa Civil e amigo da família Bolsonaro, foi realocado no governo em setembro de 2020, desta vez no Ministério do Meio Ambiente, comandado por Ricardo Salles.

Essa foi a segunda vez que o governo tenta colocar Santini de volta no gabinete. A primeira tentativa ocorreu logo depois da exoneração do posto da Casa Civil, mas foi suspensa em menos de 24h pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele havia sido recontratado por pressão do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

A demissão de Santini aconteceu após ele usar avião da FAB para se deslocar de Davos, na Suíça, onde ocorreu o Fórum Econômico Mundial, para a Índia com apenas duas assessoras.

5 - Feriado em Noronha

Quando não é com avião da FAB, é com dinheiro público através de reembolso do Senado. Em outubro do ano passado, o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, decidiu, mesmo em meio à pandemia do coronavírus, passar alguns dias no arquipélago de Fernando de Noronha com sua esposa.

Ele embarcou em uma quinta-feira, quando deveria dar expediente no Senado, e ainda pediu reembolso das passagens aéreas à casa legislativa, mesmo sem ter nenhum compromisso relacionado ao seu mandato no arquipélago.

Após a repercussão negativa, Flávio alegou "erro da equipe" ao pedir reembolso.

6 - Festa para o maquiador

Não se sabe se nessa situação houve gasto de dinheiro público, mas o episódio mostra que ser amigo da família Bolsonaro é um privilégio (ou mamata?) neste governo.

Em agosto de 2020, Bolsonaro e sua esposa, Michelle Bolsonaro, organizaram uma festa de aniversário surpresa para o maquiador Agustin Fernandez, melhor amigo da primeira-dama. A celebração foi na residência oficial do presidente, o Plaácio da Alvorada.

A festa, que teve a presença de inúmeros convidados sem máscara em meio à pandemia, contou ainda com uma surpresa preparada por Michelle para o aniversariante. A primeira-dama apresentou um vídeo no cinema do Alvorada com fotos dela e do maquiador, assim como de amigos dele, imagens de cachorros e depoimentos de clientes.

A decoração do evento foi inspirada na grife francesa Louis Vuitton.

7 - Irmão de Michelle tem cargo em ministério

Reportagem do Brasil de Fato revelou que Diego Torres Dourado, irmão de Michelle Bolsonaro, já recebeu R$ 102 mil desde que foi nomeado como assessor técnico do Ministério da Defesa, em 6 de junho de 2019.

O cunhado de Bolsonaro ganha R$ 5.685,55 mensais.

Apesar de Dourado ser soldado da Força Aérea, sua nomeação para o Ministério da Defesa é vista como nepotismo. "Há uma clara infringência à súmula 13, já que ele é parente em linha reta do presidente da República. O argumento de que ele já era nomeado para um DAS e que poderia ser para outro não cabe aqui", afirmou o professor de Direito Constitucional Pedro Serrano.

8 - Festa desnecessária

Em dezembro de 2020, em meio ao recrudescimento da pandemia no Brasil e as centenas de milhares de mortes, Bolsonaro resolveu festejar e ostentar. Ele a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, inauguraram uma vitrine em que ficarão expostos os trajes que ambos usaram na posse, em 1º de janeiro de 2019.

A cerimônia foi cercada de pompa, dentro do Palácio do Planalto, com direito a discurso de Michelle e descerramento de fita. E ainda foi transmitida ao vivo pela TV Brasil. O presidente ainda fez propaganda do profissional, dando o endereço de seu ateliê em Brasília e pontuando que o material “é de qualidade”.

9 - Mamata do 04

A produtora Astronautas Filmes, que somente em 2020 recebeu R$ 1,4 milhão do governo Bolsonaro por serviços prestados, fez gratuitamente a cobertura com fotos e vídeos da festa de inauguração de uma empresa de Jair Renan Bolsonaro, o filho 04 do presidente Jair Bolsonaro.

A inauguração da empresa de Renan, a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, foi realizada em outubro do ano passado, no camarote 311 do estádio Mané Garrincha, em Brasília, onde fica a sua sede. Um vídeo da produtora com os melhores momentos da festa é exibido no Instagram do projeto.

Frederico Borges de Paiva, o proprietário da Astronautas que esteve na festa e aparece no vídeo abraçando Renan, admitiu que realizou os serviços para a empresa. “Trocamos por permuta pela divulgação das nossas marcas, assim como fazemos em diversos outros projetos”, disse Paiva.

Paiva, no entanto, não quis divulgar o valor do serviço. “Entendemos não ter qualquer obrigação de revelar a este veículo de comunicação informações de cunho administrativo e financeiro referente à relação profissional que temos com outras agências, sob qualquer formato”, afirmou o empresário.

10 - Recorde de militares

De acordo com levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgado em julho de 2020, a quantidade de militares da ativa e da reserva que ocupam cargos civis no governo federal mais do que dobrou nos dois primeiros anos da gestão do presidente Jair Bolsonaro.

Em 2018, havia 2.765 militares em cargos civis do governo federal. Em 2019, o número chegou a 3.515 cargos destinados a servidores oriundos da caserna. E em 2020, o total chegou a 6.157, um aumento de 122%. 

Bolsonaro, a título de informação, é capitão da reserva do Exército.