PETRÓPOLIS

Família real, que recebe laudêmio em Petrópolis, oferece "orações" às vítimas das chuvas

Habitantes de Petrópolis pagam, até hoje, uma espécie de "taxa do príncipe"; entenda

Bombeiros, moradores e voluntários trabalham no local do deslizamento no Morro da Oficina, em PetrópolisCréditos: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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A "família real" brasileira, que até hoje recebe uma espécie de "taxa do príncipe" dos habitantes de Petrópolis, colocou à disposição das vítimas das chuvas e deslizamentos... suas orações.

Em uma carta cheia de absurdos escrita pelo "príncipe imperial" do Brasil, Dom Bertrand de Orleans e Bragança, é oferecida uma ajuda muito pouco efetiva, através de palavras de "consternação" e pedidos divinos de intercessão. 

"A família imperial, tão estreitamente ligada a Petrópolis, encontra-se sempre disposta a servir ao seu povo, oferecendo ainda nossas orações e solidariedade a todos que vem sofrendo. Rogo a Deus nosso senhor, por intercessão do padroeiro são Pedro de Alcântara, que proteja e dê alento à boa gente petropolitana nesta hora de aflição e necessidade", escreve.

Ao parabenizar o trabalho incansável de bombeiros, policiais, médicos e enfermeiros, Orleans e Bragança ainda inclui um termo pouco usual, "beneméritos particulares", e afirma que, entre eles, "há muitos monarquistas", apesar de não citar nomes. 

"Neste momento de grave dificuldade, o trabalho incansável de Bombeiros, policiais, médicos e enfermeiros, bem como o de beneméritos particulares - dentre os quais há muitos monarquistas - merece nossa admiração e gratidão, pois bem demonstram a caridade própria de um povo autenticamente voluntarioso e cristão", diz na carta.

O número de mortos em Petrópolis chegou a 120, segundo o Corpo de Bombeiros. Dos 117 corpos que chegaram ao Instituto Médico-Legal (IML), 77 são de mulheres e 40 de homens. Desses, 20 são menores. Abandonados pelo Estado, moradores foram vistos revirando o lixo em busca de comida. 

Leia a carta na íntegra:

O que é o laudêmio?

O laudêmio (do latim ‘laudare’), que significa ‘premiar’, nada mais é do que uma taxa imobiliária criada ainda na época colonial, pela família de D. Pedro II, que estabelecia que as terras reais só poderiam ser utilizadas mediante pagamento de uma pensão anual, conhecida como foro.

A taxa foi instituída em Petrópolis, no ano de 1847, quando dom Pedro II teve a ideia de distribuir lotes de terra a imigrantes alemães. Seu objetivo era colonizar as terras da então Fazenda do Córrego Seco, comprada em 1830 por seu pai, dom Pedro I. Ficou decidido que os colonos alemães seriam obrigados a pagar ao Imperador uma taxa caso vendessem a outra pessoa o lote recebido, o laudêmio.

O laudêmio estabelece que toda vez que um imóvel localizado na região da antiga Fazenda Córrego Seco – que atualmente engloba o centro e os bairros mais valorizados de Petrópolis – for vendido, os descendentes da família real recebem uma taxa de 2,5% sobre o valor de venda de mercado do imóvel.

O valor tem de ser pago à vista à Companhia Imobiliária de Petrópolis, entidade administrada pelos descendentes de Dom Pedro II. Caso contrário, o comprador, a quem cabe o pagamento da taxa, não recebe a escritura definitiva do imóvel adquirido.