SÃO PAULO

VÍDEO: Jornalista denuncia racismo em salão de beleza na Oscar Freire

Nas redes sociais, Luanda Vieira denunciou que a fala racista foi proferida em tom alto pelo cabeleireiro, que debochou da presença dela no salão; "meu objetivo é incentivar, encorajar mais mulheres negras a denunciar o racismo"

Luanda denuncia que foi vítima de racismo em um salão na rua Oscar FreireCréditos: Reprodução Instagram
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A jornalista Luanda Vieira, denuncia ter sido vítima de racismo em um salão de beleza na rua Oscar Freire, nos Jardins, na zona oeste de São Paulo. A região é conhecida pelo comércio de luxo. O caso foi relatado pela jornalista em sua rede social.

Luanda Vieira conta que foi ao Studio Lorena, no último dia (6), e que estava sendo atendida por uma manicure havia dez minutos quando o cabeleireiro Augusto Lima se aproximou fazendo comentários debochados sobre sua presença no local. 
"Nossa! Eu olhei ali de longe e levei um susto. Eu achei que a Mirian estava aqui sentada fazendo a unha. Você imagina a Mirian sentada fazendo a unha?" teria dito o cabeleireiro em voz alta. 

Sem entender a situação, a jornalista descobriu que Mirian, na verdade se tratava de outra manicure que trabalhava no salão.
"A questão não foi ele ter me relacionado a uma manicure, mas ele ter feito um show porque tinha uma mulher negra ali. Não foi algo rápido, ele ficou uns três minutos rindo e falando alto, em tom deboche, com a manicure que me atendia, como se eu não estivesse lá. Ela (a manicure) ficou sem graça com a situação" conta. 

"E por que a Mirian não poderia estar sentada ali? Esse é o racismo estrutural: o negro não pode estar em todos os lugares", desabafa.

A cliente disse que ficou chocada e sem reação durante o episódio, mas que depois avisou à manicure e à recepcionista que faria uma reclamação formal. Ela conta que foi informada de que não havia um responsável pelo salão disponível naquele momento. No entanto, a jornalista enviou a reclamação pelo Whatsapp.

Veja:

 

"A fundadora do salão entrou em contato comigo, ela me ouviu,  pediu desculpas, ela pediu para eu dar uma segunda chance para o salão, porque os profissionais de lá não são desse jeito", relata. Luanda prosseguiu dizendo que não aceitou a proposta da proprietária.

"Obviamente eu falei que não, porque eu sei que eu vou chegar no salão e as pessoas vão me tratar bem, porque a Luanda do caso de racismo chegou e a gente tem que ser exemplar" conta.

Luanda conta que observou um detalhe na conversa com a proprietária do salão. " Em dado momento da conversa, a Fernanda que é a fundadora virou pra mim e falou: nossa, talvez você não saiba como educada você foi ao mandar a mensagem e a forma que você enviou a mensagem", relata. 

Chocada, a jornalista enxergou uma fala racista, oculta, da proprietária: "porque eu não seria educada? Vocês entendem as minúcias que tem atrás de cada fala de uma pessoa racista que diz que não  é racista? Eles esperam que a gente quebre tudo, faça barraco e escândalo", indignou-se. 

Procurado,  o Studio Lorena disse à reportagem que sua primeira atitude foi ouvir a cliente e se desculpar pela situação. A proprietária que falou com Luanda disse que ressaltou na ligação a educação que a jornalista teve "ao dividir tudo o que havia acontecido, por compreender o lugar de dor que ela estava naquele momento". 

Em nota, o salão disse ainda que  cabeleireiro trabalha no local há 11 anos e agiu "de forma que julgamos errada, sim, ao confundir e comparar a Luanda com a Mirian, já que essa conexão se deu por ambas serem negras, altas e usarem o mesmo estilo de penteado e tranças (que era um penteado que a Mirian usava na época que trabalhava aqui com a gente –há 5 anos)", argumentou. 

"Isso nos mostra o quanto precisamos trazer o debate racial com mais afinco aqui para dentro, já que nossa proposta enquanto espaço não é a de fazer comparativos entre pessoas, mas ser um ambiente onde todos se sintam acolhidos e bem", disse o Studio Lorena.

Três dias depois do ocorrido, na segunda-feira (9), a jornalista publicou um vídeo relatando o caso em sua rede social. "O meu objetivo com o vídeo não era atingir o salão, mas incentivar, encorajar mais mulheres negras a denunciar o racismo, as pessoas a não ficarem com medo de denunciar o mínimo que seja, porque racismo é crime e ele cresce no silêncio", protestou.