VIDA NAS RUAS

Massacre da Praça da Sé completa 18 anos e continua sem solução

Depois da barbárie que vitimou 7 moradores de rua, o dia 19 de agosto foi transformado no Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua

Morador de rua dorme no Páteo do Colégio na primavera de 2016, em São Paulo.Créditos: Raphael Sanz/Autorizada pelo autor a publicação na Fórum
Escrito en BRASIL el

A madrugada de 19 para 20 de agosto de 2004 ficou marcada por um verdadeiro massacre na Praça da Sé, marco zero de São Paulo, que deixou sete moradores de rua mortos e seis gravemente feridos. Na calada da noite, homens invadiram a praça e agrediram ferozmente o povo que ali dormia com barras de ferro e pedaços de madeira.

Apesar do forte indício de participação de policiais militares, dado o histórico de grupos de extermínio que há na cidade, sobretudo naqueles anos, as investigações não chegaram a nenhum culpado. Foi feita na época a crítica de que a má investigação e a ausência de responsáveis pelas mortes invisibilizada e desvalorizava ainda mais o povo que vive nas ruas de São Paulo.

Foi a partir desse episódio que fundou-se o Movimento Nacional da População em Situação de Rua e instituiu-se o 19 de agosto como o Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua.

“A rua não é lugar para se viver, muito menos para morrer”, diz o principal lema do movimento. No entanto não existem dados precisos nem de quantos vivem e nem de quantos estão morrendo nas ruas de São Paulo. Estima-se, a partir dos dados de óbitos sem qualquer identificação ou qualificação da pessoa morta divulgados pelo Instituto de Identificação da Secretaria de Segurança Pública estadual, que tenha sido cerca de 2500 mortes nessas condições entre os meses de abril de 2021 e 2022. Entende-se que boa parte disso possa ser de pessoas que faleceram em situação de rua. Quando a falta de identificação permanece, são enterrados sem nomes e idades em valas comuns. As informações e dados usados até aqui foram publicados no Uol.

Sobre as causas da queda à situação de rua, há quem diga que as razões específicas são diversas, enquanto que a razão estrutural central é o nível de destruição econômica a que está exposto o lado mais fraco da dinâmica de desigualdades sociais que impera no Brasil. A respeito das causas específicas, para além da crise recente, o que mais chama atenção é ouvir de assistentes sociais paulistanos que é possível haver já três ou quatro gerações inteiras de famílias que nasceram, morreram ou deverão morrer em situação de rua. Se em algum momento esse dado se confirmar, será um retrato do nível de descaso e abandono que vivem essas pessoas.