Dois policiais militares e um militar da ativa do Exército faziam a segurança do miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa nesta terça-feira (31) quando uma operação da Polícia Federal o levou preso em plena Avenida Abelardo Bueno, na Barra da Tijuca - zona oeste do Rio de Janeiro.
Os três militares também foram presos na avenida e não há maiores informações sobre suas identidades. Para o cientista político Acácio Augusto, professor da Unifesp e coordenador Laboratório de Análise em Segurança Internacional e Tecnologias de Monitoramento (Lasintec), a notícia infelizmente não traz grandes novidades.
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“A notícia de que PMs e militares estavam fazendo a segurança de um miliciano no Rio de Janeiro não surpreende. Em certa medida porque é uma prática comum dos profissionais da segurança, sejam militares ou policiais militares, que é trabalhar no contra turno oferecendo tais serviços privados. Isso vai desde o chamado ‘bico’ na frente de comércios e de bares até assessoria e mesmo propriedade de empresas de segurança privada. Embora isso seja proibido por lei, há formas de burlar”, avaliou.
Para o professor, quando isso ocorre o que se vê não é apenas uma apropriação privada de recursos públicos. Mas a constatação empírica do que diversos pesquisadores têm apontado: que a milícia e as forças de segurança em lugares como o Rio de Janeiro já não funcionam separadamente.
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“Olharia para essa notícia menos como espanto e mais como um dado de que não existe o chamado ‘estado paralelo’. Primeiro porque a milícia ou grupo paramilitar não estará desvinculado das polícias, e em segundo lugar porque os principais profissionais que vão atuar como pistoleiros para esses grupos criminosos muitas vezes já foram treinados pelas próprias forças de segurança”, finalizou.
O miliciano
Taillon é apontado como uma das lideranças da milícia de Rio das Pedras ao lado do pai, Dalmir Barbosa, que foi preso em casa no âmbito da mesma operação. O grupo é rival de outra importante milícia, o Bonde do Zinho, que após a morte de Faustão, um dos seus líderes, incendiou a zona oeste.
Ele entrou no radar nacional, e não apenas no Rio, quando os médicos Perseu Ribeiro Almeida, Diego de Souza Bomfim e Marcos de Andrade Corsato foram assassinatos na orla da Barra por pistoleiros ligados ao Comando Vermelho. Perseu, uma das vítimas, seria parecido fisicamente com o miliciano, que seria o alvo oficial do bando, que teria sido contratado pelo Bonde do Zinho.
Philip Motta Pereira, o Lesk, e Ryan Nunes de Almeida são os dois principais suspeitos do assassinato dos médicos. Eles foram encontrados mortos em dois diferentes carros, também na zona oeste. A polícia diz que os executores eram do próprio Comando Vermelho que não toleraram o “erro” da dupla. E especialmente a repercussão que o crime ganhou, pois além das vítimas serem médicos, um deles era irmão da deputada federal Sâmia Bomfim.
A milícia de Rio das Pedras disputa o controle da Rocinha com o Comando Vermelho.
Prisão e liberdade de Taillon
Em dezembro de 2020 ele foi preso pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) e foi condenado em julho de 2022 a 8 anos e 4 meses de prisão.
De acordo com a acusação, havia naquele momento uma série de provas a respeito da função de liderança que Taillon exercia na milícia. Em conversas analisadas pelos investigadores, o miliciano também mostra uma íntima relação com policiais militares ao dizer, entre outras frases, que “desenrolou o bagulho do batalhão hoje”.
Em março desse ano foi colocado em prisão domiciliar e em setembro obteve liberdade condicional. Foi provavelmente nesse momento que teve o assassinato encomendado pelos rivais.