RACISMO RELIGIOSO

Terreiro de Candomblé é incendiado em Nova Iguaçu

O terreiro, que segue a tradição do Candomblé Nação Ketu, foi inaugurado em 2023 e representava um importante espaço de fé e acolhimento para a comunidade. Há suspeita de crime intencional

Terreiro de Candomblé é incendiado em Nova Iguaçu.Como ficou a parte interna do TerreiroCréditos: Divulgação
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Na noite do último domingo (9), o terreiro de candomblé Ilê À?? Oya Osun Nidê, localizado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foi alvo de um incêndio criminoso. O ataque, que ocorreu por volta das 19h, destruiu completamente o espaço religioso. Felizmente, o local estava vazio no momento do crime, e não houve vítimas. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) como um ato de intolerância religiosa.

A líder espiritual do terreiro, Iyalorixá Neila de Oya, afirmou que os prejuízos materiais são incalculáveis. O incêndio consumiu eletrodomésticos como geladeiras, fogões e uma máquina de lavar, além de roupas de santo e um enxoval recentemente adquirido. Estruturalmente, o local também sofreu danos severos, incluindo o desabamento de parte do teto e rachaduras nas paredes. Para retomar as atividades, será necessária uma ampla reforma.

O terreiro, que segue a tradição do Candomblé Nação Ketu, foi inaugurado em 2023 e representava um importante espaço de fé e acolhimento para a comunidade. A suspeita de crime intencional se reforça pelo fato de os bombeiros terem identificado três focos distintos de incêndio, além de não encontrarem sinais de curto-circuito ou vazamento de gás.

Em entrevista, a mãe de santo revelou estar profundamente abalada com o ocorrido. "Ainda estou atordoada, sem condições de avaliar como tudo aconteceu e o que fazer. Ainda não consigo entender", desabafou. O choque emocional foi tão intenso que a religiosa precisou receber atendimento médico.

O professor e Babalawô Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e docente do Programa de Pós-graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembrou que episódios semelhantes vêm se repetindo na Baixada Fluminense. Na semana anterior ao incêndio, uma outra liderança religiosa, Mãe Marina, foi vítima de atos de intolerância em Duque de Caxias. "Esses crimes não são casos isolados. Eles refletem um Brasil em que terreiros são atacados e lideranças religiosas são perseguidas. Não podemos nos calar. É preciso denunciar, exigir justiça e reafirmar que fé não se apaga, axé não se destrói", declarou em suas redes sociais.

A intolerância religiosa é considerada crime no Brasil, conforme a Lei nº 7.716/1989. De acordo com o artigo 20 da legislação, quem praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de religião pode ser condenado a penas que variam de um a três anos de reclusão, além de multa.

A vereadora de Niterói Benny Briolly, que também denunciou o ocorrido, ressaltou o aumento dos casos de violações de direitos humanos direcionadas às religiões de matriz africana no estado do Rio de Janeiro. "Querem queimar a nossa memória, culturas, raízes e tradições. Não podemos permitir que esses crimes fiquem impunes", afirmou a parlamentar.

Diante da destruição do terreiro, a Iyalorixá Neila de Oya fez um apelo por solidariedade. "Precisamos da ajuda de todos para reerguer nossa casa de axé e seguir firmes em nossa fé", declarou. Apesar da perda material, ela reafirmou sua determinação em continuar sua missão religiosa e de acolhimento à comunidade.

As investigações prosseguem, e a expectativa da comunidade religiosa e de ativistas dos direitos humanos é de que os responsáveis sejam identificados e punidos, reforçando a importância do combate à intolerância religiosa no Brasil.

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