Tensão no MEC: Servidores do Inep sob risco de retaliação após prova do Enem

Os formuladores da mais importante prova do calendário escolar brasileiro temem ser punidos após descumprirem as ordens autoritárias de Milton Ribeiro e de Bolsonaro. PT manifestou apoio aos elaboradores do teste

Inep (Reprodução)
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Os formuladores da prova do Enem, que são servidores federais do Inep, subordinados ao MEC, já se preparam para sofrer algum tipo de retaliação por parte do ministro Educação Milton Ribeiro e, talvez, até por ordem direta de Jair Bolsonaro, após o audacioso e corajoso descumprimento das ordens para censurar questões do teste.

Na primeira parte do exame, aplicada no domingo (21), perguntas envolvendo racismo, erotização do corpo feminino, o filósofo Friedrich Engels (coautor do "Manifesto Comunista", junto com Karl Marx) e a letra crítica de "Admirável Gado Novo", de Zé Ramalho, despertaram a fúria do pastor-ministro e do presidente radical de extrema direita, que davam como certa a interferência imposta por eles a qualquer coisa que tivesse aspecto "ideológico" na prova, seja lá o que isso signifique.

Boa parte das perguntas "retiradas" do Enem por determinação da pasta comandada por Ribeiro foi colocada de volta na prova, sem que o ministro e o presidente soubessem. Eram questões que, segundo a visão obtusa do bolsonarismo, abordavam temáticas "de esquerda" e por isso deveriam ser removidas do teste.

Segundo a Folha de S.Paulo, a direção do Inep acredita que pelo fato dos formuladores da prova serem poucos, o governo bolsonarista não terá dificuldades em identificar quem foram os responsáveis por recolocar, sem autorização, as questões censuradas e que por isso essas pessoas estão sob o risco de receber alguma punição pela insubordinação que garantiu a qualidade e a autonomia do exame.

Logo após a realização do Enem 2020, que só aconteceu no início de 2021, por conta da pandemia da Covid-19, três funcionários de carreira do Inep responsáveis pela confecção da prova foram informados pelo alto escalão do MEC que não era mais "bem-vindos" na atividade. Outros, sofreram tanta pressão e assédio para que fizessem as vontades desarrazoadas de Ribeiro e Bolsonaro que resolveram se desligar da função. Os que permaneceram passaram então a conviver com uma forte censura, assinando até atas nas quais ficava estabelecida a retirada de determinadas perguntas do teste.

E esta não teria sido a primeira vez que as pressões ideológicas extremistas do bolsonarismo deram as caras na mais importante prova do calendário escolar brasileiro. No último ano, alterações no gabarito e em outras fases de produção do Enem resultaram na exclusão de perguntas que envolviam o racismo.

A paranoia incessante do alto escalão ultrarreacionário do MEC, nomeado por Jair Bolsonaro e seu séquito obscurantista, acabou levando à demissão coletiva de 37 servidores com cargo de chefia no Inep às vésperas da realização do Enem.

Bancada do PT divulgou nota de apoio

A bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados divulgou uma nota de apoio e respeito aos servidores do Inep que se insurgiram contra as sandices ideológicas do bolsonarismo, garantindo um Enem em alto nível e sem interferências políticas.

"Graças a seus protestos, com a entrega digna dos cargos ocupados em razão de assédio, perseguição e ingerência indevida em exames, bem como as denúncias sobre as tentativas de intervenção política e censura, as ameaças de um Enem “com a cara do governo” não foram, até aqui, bem-sucedidas", diz um trecho do texto assinado pelos parlamentares.

Os deputados petistas saudaram os funcionários públicos não só do órgão e informaram ainda na nota que permanecerão pressionando pela saída do atual presidente do Inep, Danilo Dupas, acusado de assédio moral e truculência com os subordinados.

"É necessário estabelecer ações que garantam funcionamento adequado do Inep, em especial no que diz respeito à realização de exames de avaliações e censos. Reforçamos nosso apoio ao qualificadíssimo conjunto de servidores públicos do Inep. A Bancada do PT seguirá defendendo medidas de investigação e mitigação da crise, processo que demanda, entre outras coisas, a demissão do atual presidente do Inep. Viva o serviço público!", finalizou o texto.