Genealogia Forense: conexões humanas e soluções para crimes

Como a nova série da Netflix, "A Grande Descoberta", revela os segredos genéticos que solucionam crimes e mostram que estamos todos conectados de formas inesperadas

Genealogia Forense: conexões humanas e soluções para crimes.Como a nova série da Netflix revela os segredos genéticos que solucionam crimes e mostram que estamos todos conectados de formas inesperadas.Créditos: Fotomontagem (Canva)
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A genealogia forense, uma técnica que combina genealogia tradicional com análise genética moderna, ganhou os holofotes na nova série da Netflix, "A Grande Descoberta", baseada no caso real de um duplo homicídio resolvido após 16 anos na Suécia.

A produção estreou no Brasil no dia 7 de janeiro e retrata a resolução de um crime brutal, além de explorar as conexões profundas que unem toda a humanidade, destacando como essas ligações genéticas podem trazer justiça e respostas em situações complexas.

A minissérie em quatro episódios aborda a segunda maior investigação de assassinato da história da Suécia e enfatiza as complexidades e desafios enfrentados pelas autoridades ao utilizar métodos inovadores para solucionar crimes antigos.

A técnica que liga gerações

A genealogia forense opera em cinco etapas principais:

  • Coleta de DNA: Amostras são coletadas em cenas de crimes ou restos mortais.
     
  • Análise genética: Perfis detalhados são gerados usando técnicas como o sequenciamento de SNPs.
     
  • Comparação com bancos de dados: Perfis genéticos são cruzados com informações em bancos públicos, como GEDmatch.
     
  • Construção de árvores genealógicas: Correspondências genéticas ajudam a mapear conexões familiares.
     
  • Identificação do suspeito: As investigações são direcionadas a indivíduos específicos com base nessas ligações.

Caso do Golden State Killer: Um marco nos EUA

Um dos casos mais emblemáticos que impulsionaram o uso da genealogia forense foi o do Golden State Killer, nos Estados Unidos. Entre as décadas de 1970 e 1980, o criminoso cometeu dezenas de invasões, estupros e assassinatos na Califórnia, permanecendo impune por mais de 40 anos.

Em 2018, os investigadores utilizaram DNA coletado em cenas de crimes antigos e o compararam a perfis genéticos de bancos públicos.

Por meio de parentes distantes, foi possível construir uma árvore genealógica que levou a Joseph James DeAngelo, um ex-policial. Sua prisão foi considerada um marco na história da aplicação da genealogia forense, culminando em sua condenação à prisão perpétua em 2020.

Caso de Linköping: A inspiração da série

Na Suécia, a técnica ganhou destaque com o caso de 2004 em Linköping, onde um menino de oito anos foi assassinado enquanto caminhava para a escola, e uma mulher de 56 anos, ao tentar ajudá-lo, também foi morta.

Após anos de investigações frustradas, a genealogia forense permitiu a identificação do autor em 2020, utilizando DNA coletado na cena do crime e bancos de dados públicos.

Impacto no GDPR e questões éticas

O caso de Linköping gerou debates na União Europeia sobre o uso de dados genéticos para investigações criminais:

  • Uso de dados sensíveis: O DNA é considerado um dado sensível pelo GDPR, e seu processamento requer bases legais claras, como a prevenção de crimes graves.
     
  • Consentimento: A utilização de bancos de dados públicos muitas vezes envolve dados de indivíduos que não consentiram explicitamente para esse fim.
     
  • Proporcionalidade: O GDPR exige que o uso de dados seja proporcional ao objetivo, levantando a questão de limites em casos antigos.
     
  • Impacto em terceiros: A genealogia forense pode expor familiares que não estão diretamente conectados ao crime.

Conexões humanas: O DNA que une a todos

A série destaca uma verdade universal: todos os humanos estão geneticamente conectados. Estudos mostram que descendemos de populações africanas de cerca de 200 mil anos atrás.

Apesar dessa diversidade, todos carregamos vestígios de um ancestral comum, muitas vezes chamado de EVA mitocondrial (ancestral comum mais recente de todas as linhagens de DNA mitocondrial) e Adão cromossômico Y (ancestral comum mais recente de todas as linhagens de cromossomo Y).

Origem Africana

Estudos genéticos mostram que todos os humanos modernos descendem de populações que viveram na África há cerca de 200 mil anos. Esse conceito é conhecido como a teoria do Elo Africano.

Migrações

À medida que grupos humanos migraram para outras regiões do mundo, seus genes se diversificaram devido à deriva genética, seleção natural e mutações.

Compartilhamento de DNA

Indivíduos compartilham partes de seu DNA com seus parentes próximos de maneira previsível: 50% com cada um dos pais, 25% com os avós, 12,5% com primos de primeiro grau e assim por diante.

Mesmo entre pessoas sem relação direta, há um grau de parentesco genético. Estudos estimam que duas pessoas aleatórias no planeta compartilham cerca de 99,9% do DNA, refletindo o fato de que a maior parte do nosso material genético é idêntica.

Genes herdados em linhagens cruzadas

Em algum momento, todos os seres humanos vivos têm ancestrais em comum. Esse conceito é conhecido como Ancestralidade Comum Universal.

Por exemplo, cálculos sugerem que o mais recente ancestral comum de todas as pessoas vivas hoje pode ter vivido há cerca de 3.000 a 5.000 anos.

Diversidade e conexão

Embora compartilhemos uma grande porcentagem do DNA, a pequena porção que varia (0,1%) contém as mutações que determinam diferenças visíveis como cor da pele, altura e predisposição a doenças.

Ao longo da história, populações migraram, guerrearam e se misturaram, trocando genes. Isso significa que a maioria das pessoas carrega vestígios genéticos de várias origens populacionais.

Por exemplo, pessoas de origem europeia frequentemente têm traços genéticos de populações da Ásia Central, enquanto populações na América Latina refletem uma mistura de ancestrais indígenas, africanos e europeus.

Como a conexão é detectada?

DNA Mitocondrial: Passado de mãe para filhos, o DNA mitocondrial permite traçar linhagens maternas até um ancestral comum.

Cromossomo Y: Passado de pai para filhos do sexo masculino, é usado para estudar linhagens paternas.

Testes genéticos comerciais: Empresas como 23andMe e AncestryDNA utilizam bancos de dados para mostrar como as pessoas compartilham DNA com populações ao redor do mundo, reforçando a ideia de que todos estamos conectados.

Genealogia para a filosofia e ciência

A genética reforça que, apesar das diferenças culturais, linguísticas e geográficas, todos os humanos pertencem à mesma espécie e têm uma origem compartilhada.

Essa interconexão genética demonstra a importância da diversidade, pois as variações genéticas entre populações são um reflexo de adaptações ambientais ao longo do tempo.

Em resumo, todas as pessoas estão geneticamente conectadas em algum grau devido à nossa origem comum e ao compartilhamento contínuo de material genético ao longo da história. Essa conexão evidencia tanto nossa diversidade quanto nossa unidade como espécie.

Um futuro de conexões e justiça

Enquanto "A Grande Descoberta" ilumina o impacto transformador da genealogia forense, ela também reforça a ideia de que estamos todos interligados, tanto geneticamente quanto por nossas histórias compartilhadas.

Casos como o do Golden State Killer e de Linköping exemplificam como avanços científicos podem resolver crimes e conectar pessoas de maneiras surpreendentes.

Com regulamentações claras e práticas éticas, a genealogia forense pode continuar a trazer respostas, unir o passado e o presente e fortalecer a busca por justiça em um mundo geneticamente conectado.

Assista ao trailer (no idioma original)

 

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