TECNOLOGIA

"Cheiro do inferno": Cientistas recriam aromas da Europa medieval com IA e pesquisa histórica

Projeto utilizou a tecnologia para recriar odores a partir de sermões do século XVI e XVII

O Hotel de Ville de Paris em 1583 - gravura do século XIX de Hoffbrauer.Créditos: Wikimedia Commons
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Entre 2021 e 2023, uma equipe financiada pela União Europeia criou o ODEUROPA Smell Explorer, uma base de dados com mais de 2,4 milhões de referências a odores históricos. O objetivo do projeto foi resgatar aromas que fazem parte do patrimônio cultural da Europa, utilizando inteligência artificial para pesquisar textos e imagens antigas.

Um exemplo curioso é o "cheiro do inferno", que foi reconstruído a partir de sermões dos séculos XVI e XVII. O investigador William Tullett usou essas fontes para recriar um aroma fétido descrito como "um milhão de cães mortos". Esse e outros cheiros históricos, como o incenso e o aroma dos canais de Amesterdão, foram apresentados na Expo Mundial de 2025, em Osaka, Japão.

Impacto cultural dos cheiros

A exposição na Expo Mundial destacou como os cheiros têm diferentes significados culturais e emocionais. Embora o cheiro do inferno tenha sido visto por alguns europeus como semelhante ao de carne grelhada, os visitantes japoneses o acharam repulsivo. Para Inger Leemans, historiadora cultural, isso demonstra como o olfato é subjetivo e depende do contexto cultural.

O projeto ODEUROPA também desenvolveu um Kit de Ferramentas do Patrimônio Olfativo, que ajuda pesquisadores e políticos a documentar e proteger cheiros significativos. A IA foi usada para analisar mais de 200 mil textos e 43 mil imagens históricas, criando uma rede de informações sobre aromas. Esse trabalho contribui para tornar o patrimônio cultural mais acessível por meio da plataforma digital Europeana.

Inspiração no Japão

A equipe da ODEUROPA se inspirou no Japão, que em 2001 criou uma lista das 100 paisagens olfativas mais importantes do país. O Japão tem uma longa tradição de preservação de aromas, algo que inspirou os europeus a refletirem sobre como os cheiros podem representar identidade e memória de um lugar. Maki Ueda, artista olfativa japonesa, lembrou que, no Japão antigo, o olfato tinha um papel social importante, algo perdido nos tempos modernos.

Leemans acredita que, com esse trabalho, o olfato pode voltar a ser reconhecido como uma parte importante da cultura. Ela espera que o projeto continue a despertar o interesse por esse sentido, que foi muitas vezes negligenciado.

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