MINÉRIO

Brasil tem quarta maior reserva de componente crítico para eletrificados e potencial subaproveitado

Pelo menos 30% de toda a produção brasileira do minério crítico para a tecnologia estaria sob controle de grupos ilegais, e a maioria é exportada como material bruto

Mineração.Créditos: Unsplash
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O manganês, minério essencial para componentes tecnológicos e para a produção de aço, movimenta um mercado internacional estimado em dezenas de bilhões de dólares. Em 2024, segundo relatório da Global Growth Insights, o mercado de manganês movimentou US$ 30,8 bilhões, com projeção para alcançar até US$ 57,8 bilhões até 2033.

Geograficamente, a produção e o refino do manganês estão concentrados no domínio de alguns poucos países, como China, África do Sul e Austrália. No segmento de alta pureza, quem domina é a China, com parcela importante do refino global: até 85% do refino mundial do minério, o manganês de alta pureza (HPMSM), usado em cátodos de bateria íon-lítio, é produzido pelo país.

"Montadoras como Tesla e Volkswagen estão integrando ativamente tecnologias de cátodos ricos em manganês para reduzir custos e se alinhar aos objetivos de sustentabilidade. Estima-se que, até 2025, 30% dos novos modelos de veículos elétricos incorporarão composições químicas LMFP, exigindo aproximadamente 50 a 60 kg de manganês por veículo", afirma a SFA Oxford.

Nas indústrias espacial e automotiva, as ligas de manganês-alumínio são preferíveis devido à alta resistência à corrosão e soldabilidade.

No Brasil, que detinha, em 2023, 230 milhões de toneladas de reservas de manganês — o que o coloca entre os maiores depósitos mundiais, no quarto lugar global, segundo o Sumário Mineral Brasileiro —, a maioria do manganês está concentrada nos estados de Minas Gerais, Pará (no sudeste do estado, na região que integra Carajás, Marabá e Barcarena) e Amapá. Juntos, os estados detêm até 98% de todas as reservas nacionais do minério.

Historicamente, a produção se concentra em grandes empresas de extração, como a Vale, que costumava atuar em Carajás, e mineradoras como a Buritirama. Nos últimos anos, no entanto, o mercado do manganês tem sido reconfigurado no Brasil. A Vale vendeu seus ativos e desinvestiu da exploração direta desse minério para se concentrar na extração de ferro, e a Buritirama teve pedido de falência confirmado em 2023, o que afetou a capacidade produtiva da cadeia.

Algumas empresas ainda buscam espaço no mercado, como a RMB (Recursos Minerais do Brasil), com planos de investimento nas reservas de Carajás, no estado do Pará. A produção de manganês brasileira, entretanto, passa por desafios relacionados ao garimpo ilegal, amplamente difundido especialmente no Pará, o epicentro da atividade.

As jazidas são exploradas de maneira predatória, com registros de invasões documentados pela Vale — como afirmou a empresa à Folha de S.Paulo —, além de apreensões policiais contra transporte e venda ilegal do minério noticiadas pelos Serviços e Informações do Brasil.

De acordo com relatos de empresários ligados à extração do minério, pelo menos 30% de toda a produção brasileira estaria sob controle de grupos ilegais, o que implica na perda de milhões de toneladas de reservas anuais. A extração ilegal conta com transporte por intermediários e lavagem por meio de portos e empresas associadas, na tentativa de "legalizar" cargas com documentações falsas.

A tonelada de manganês não refinado pode girar em torno de R$ 300, mas a transformação pelo beneficiamento, com o refino que serve para as cadeias tecnológicas, atinge valores muito maiores, que podem chegar a US$ 800 por tonelada, de acordo com a Gazeta Carajás.

O minério de manganês (geralmente como óxidos, como pirolusita, ou outras misturas) passa por processos de redução (alto-forno) para produzir ferromanganês ou silico-manganês, que são utilizados em ligas de aço.

No entanto, os sais de manganês de alta pureza (HPMSM), que exigem etapas químicas, eletrolíticas ou metalúrgicas, com instalações de refino específico, são usados na produção de baterias que servem, por exemplo, para equipar veículos automotivos elétricos, cuja demanda é crescente no mercado mundial. Esse processo só pode ser feito por beneficiadoras com estrutura adequada.

De acordo com relatórios da Agência Nacional de Mineração (ANM), o Brasil produziu, em 2023, cerca de 696.131 toneladas de metal contido de manganês, que é exportado, em sua maioria, como minério ou concentrado, não como beneficiado no Brasil.

A exportação de concentrados de menor valor agregado domina a produção nacional, e mesmo essa atividade está ameaçada, agora, pela presença do garimpo ilegal.

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