São Bernardo e a crença nas instituições

Em novo texto, Andrea Caldas diz: “Enquanto mirarmos nos ritos jurídicos, vamos colher apenas os seus esperados frutos. É hora - mais que hora - de mudar o olhar e fazer novas semeaduras em outros terrenos”

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Quando Lula, em meio a uma das maiores expressões de resistência popular, em SBC, resolveu ouvir a voz dos advogados e se entregar à prisão, eu protestei. Fui duramente criticada e até ofendida, pessoalmente. Tudo bem. Isto faz parte do jogo político, da catarse emocional, do turbilhão da conjuntura. Seguiram-se apelos à ONU em nome do bom comportamento do prisioneiro e da crença nas instituições. Por semanas, parte da militância acreditou no litígio internacional. Enquanto isto, guerreiros e guerreiras dos movimentos sociais mantinham a vigília, custeando sua própria vida, em torno do Guantánamo paranaense. Eu queria estar errada. Eu queria que a tese do advocacy de esquerda tivesse êxito. Mas, isto não ocorreu. As instituições funcionaram como costumam funcionar. Não é o apelo bem redigido pelo advogado que muda este turno. (Me desculpe o idealismo de meus colegas do direito acadêmico). Mas são a conjuntura e a luta de classes que alteram a normalidade - algumas vezes - da Justiça de classe. Pois bem, enquanto muitos esperavam a indicação de Lula ao Prêmio Nobel, nova condenação judiciária ocorreu. Enquanto mirarmos nos ritos jurídicos, vamos colher apenas os seus esperados frutos. É hora - mais que hora - de mudar o olhar e fazer novas semeaduras em outros terrenos.

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