Quarentena na China e na Itália diminui emissão de gases nesses países a níveis históricos

Estudo de imagens por satélite mostra que mudança no cotidiano dos dois países criou um efeito que, se continuado a longo prazo, poderia ajudar a reverter os efeitos da crise climática do planeta

Comparação da poluição na Itália em janeiro de 2020 (à esquerda), e em março de 2020 (à direita). (foto: satélite Copernicus Sentinel / ESA)
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O coronavírus, quem diria, parece estar ensinando a humanidade que existe sim uma saída para outro problema importantíssimo no planeta, que é a crise climática, responsável por aumentar a frequência de desastres naturais, elevar a temperatura no planeta e colocar em risco inclusive a viabilidade da vida humana, caso esses efeitos continuem.

Estudos realizados pelo CREA (Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo), com base em Estados Unidos, a partir de imagens de satélite produzidas pela NASA (Agência Espacial dos Estados Unidos) e pela ESA (Agência Espacial Europeia) mostram que a quarentena decretada na província de Hubei, epicentro do surto do coronavírus na China, em na Lombardia, principal foco da epidemia na Itália, causaram uma redução drástica na poluição ambiental em ambos os países.

A análise compara as imagens tomadas em meados de janeiro e as desta semana, e a diferença é bem evidente. A diminuição da atividade industrial e da circulação de meios de transporte produziu uma queda nas emissões de gases poluentes que, segundo os especialistas, poderia ter efeitos muito positivos para o combate da crise climática do planeta, no caso de esta ser mantida a longo prazo.

Na China, a quarentena foi decretada na província de Hubei, onde fica a capital Wuhan, onde surgiram os primeiros casos de Covid-19, no final de dezembro de 2019. A região é um dos principais polos industriais do país, e a paralisação da indústria local significou uma diminuição importante das emissões. Outro fator que colaborou para se alcançar esses dados foi a não circulação da grande maioria dos veículos que transportam seus cerca de 59 milhões de habitantes de Hubei.

Tudo isso levou a região a baixar suas emissões de dióxido de carbono em ao menos 25% se comparado o emitido em janeiro e fevereiro deste ano com o que foi produzido no mesmo período em 2019, segundo cálculos do CREA.

Lauri Myllyvirta, pesquisador que liderou o estudo do CREA, afirma que a China emitiu 150 milhões de toneladas métricas a menos de dióxido de carbono nas últimas três semanas do que no mesmo período do ano passado.

É importante destacar que a China é o país que mais polui a cada ano no planeta, responsável por quase um terço das emissões globais. Segundo Myllyvirta, uma redução de 25% nas emissões da China, como a observada nas últimas semanas, equivale a 6% das emissões globais.

No caso da Itália, um efeito semelhante foi observado depois da quarentena imposta na região da Lombardia, segundo imagens produzidas pelo satélite Copernicus Sentinel, da ESA, mostrando uma queda acentuada nas

Diante dessa situação, o país adotou medidas semelhantes às da China, o que significou uma queda acentuada dos níveis de dióxido de carbono e dióxido de nitrogênio

Tabela de comparação de emissões de gases na China entre janeiro e fevereiro de 2019, e em janeiro fevereiro de 2020 (foto: NASA)

Segundo alguns pesquisadores, as vidas que poderiam ser salvas se este fenômeno tiver longa duração seriam muito mais dos que a perdidas com a pandemia do Covid-19.

Marshall Burke, cientista da Universidade de Stanford, usou os dados de emissões da China para calcular que efeito a redução da poluição poderia ter na saúde dos residentes locais, e descobriu que os impactos no meio ambiente imensos.

“Eu estimo que 1,4 mil crianças menores de 5 anos foram salvas e cerca de 51,7 idosos acima de 70, somente com o fato de ter um ar em melhores condições para se respirar”, afirma o pesquisador, que ressaltou que esses números seriam 20 maior que o número de mortes registradas pelo coronavírus.

Mas Burke não para por aí, e sua análise vai além. “Estou me referindo somente ao que acontece agora, podemos ir muito além se projetarmos os efeitos que isso pode ter se esse fenômeno se sustentar a longo prazo, e seria muito interessante estudar que efeitos isso poderia ter para o combate da crise climática que o planeta enfrenta”, comentou.

De qualquer forma, o pesquisador ressaltou que não está sugerindo que a pandemia é boa para a saúde. “É importante não confundir as coisas, e combater o coronavírus e evitar que ele mate mais pessoas é uma tarefa essencial agora, mas não deixa de ser uma esperança o fato de que algumas medidas parecem estar ensinando o mundo que também há uma salvação para outros problemas que enfrentamos atualmente, como a crise climática”, analisou Burke.