Ômicron: "Vai surgir variante que seja resistente às vacinas", alerta ex-ministro da Saúde

Alexandre Padilha afirma que a ganância do mercado e a incapacidade de governos e organismos multilaterais impedem que população mais pobre tenha acesso à vacina contra a Covid-19, o que gera mutações mais perigosas do coronavírus.

Voluntários da Cruz Vermelha trabalham no combate à Covid-19 na Etiópia, na África (Foto: Comitê Internacional da Cruz Vermelha)
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Em entrevista ao Fórum Café na manhã desta segunda-feira (29), o ex-ministro da Saúde e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) falou dos riscos da Ômicron, variante do coronavírus detectada na África, e fez um alerta sobre o surgimento de mutações do vírus que serão resistentes às vacinas já aplicadas contra a Covid-19.

"Primeiro uma certeza - e eu sempre tenho dito isso -: vão surgir um dia variantes da Covid-19 que sejam resistentes às vacinas que nós utilizamos. Se vai ser daqui a 10 ou 20 anos, ou daqui a um mês ou uma semana, ninguém pode dizer. Só que, infelizmente, o mundo trabalha para que isso surja daqui a um mês, uma semana", alertou.

"Por que isso? Porque por mais que a ciência tenha sido rápida, recorde no desenvolvimento da vacina, infelizmente o mercado, a ganância, a vontade de querer lucrar e a incapacidade dos governos, principalmente das nações mais ricas, a imobilidade do G20, a incapacidade dos organismos multilaterais como a ONU e a OMS, não faz com que essa vacina chegue o mais rápido possível no braço da população mundial", emendou o ex-ministro.

Padilha afirmou que o que aconteceu com a Ômicron é muito parecido com o que aconteceu com a variante Delta, detectada na Índia.

"E olha a contradição: a Índia tem a maior fábrica produtora de vacinas do mundo, uma transnacional que está lá produzindo vacina para o mundo inteiro, mas não garante vacina para o povo indiano".

Ômicron: variante com muitas mutações

O ex-ministro afirmou ainda que o que preocupa inicialmente é que a Ômicron é uma variante com muitas mutações e, aparentemente, tem um poder de contaminação maior, embora a doença possa não ser tão grave, sobretudo devido à vacinação já feita em boa parte da população.

"O que preocupa inicialmente é que é uma variante com muitas mutações. Significa que ao ter muitas mutações ela é mais grave? Não necessariamente", afirmou.

"Uma outra coisa que preocupa é que na comunidade onde ela foi detectada, rapidamente se tornou a variante dominante. Significa que ela será dominante no mundo inteiro? Não necessariamente. Talvez tenha sido domingante naquel comunidade por ter pouca gente vacinada", disse Padilha, ressaltando que informações mais detalhadas serão conhecidas daqui a 10 dias, segundo previsões da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Reunião do G7 e quebra de patentes

O aumento de casos da nova variante do coronavírus, batizada de Ômicron, fez com que o governo do Reino Unido convocasse uma reunião de emergência entre ministros da Saúde dos países que integram o G7, grupo das sete economias mais desenvolvidas do mundo.

O encontro será nesta segunda-feira (29) e tem como objetivo debater o que pode acontecer com a chegada da nova cepa no mundo.

A nova variante surgida no continente africano, onde apenas 4% da população foi vacinada, pode acelerar a quebra de patentes das vacinas.

Negociadores estimam que, se a nova variante for realmente muito agressiva e agravar a pandemia, a demanda apoiada por 64 países ganhará novo impulso e a pressão sobre a OMC será enorme para enfim decidir uma flexibilização na área de patentes.

Na OMC, faz mais de um ano que Índia e África do Sul apresentaram proposta de ‘’waiver’’ (suspensão) por três anos de certas provisões do Acordo de Propriedade Intelectual, para ajudar países com capacidade de produção farmacêutica insuficiente a ter acesso a vacinas contra a covid-19.

Já grandes produtores farmacêuticos, como União Europeia (UE), Reino Unido e Suíça, defendem flexibilidade, mas resistem a abrir a patente dos medicamentos. Os EUA disseram apoiar a demanda indiana, sem porém colocar propor como seria uma flexibilização nesse caso. Na sexta-feira, o presidente Joe Biden voltou a defender a flexibilização.

Assista à entrevista de Alexandre Padilha ao Fórum Café

https://www.youtube.com/watch?v=BrDLrzSooZI