Sem SUS, morador dos EUA fica devendo US$ 1 milhão após pai morrer de Covid-19

Em extensa reportagem, jornalista do The New York Times pesquisou mais de 800 contas médicas enviadas por leitores. Além de perder pessoas queridas para a Covid-19, estadunidenses têm que arcar com dívidas que muitas vezes passam a casa do milhão de dólares

Reportagem do The New York Times relata drama de estadunidenses que contraem dívidas no tratamento da Covid-19 (Reprodução)
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Sem um aparato público para tratamento contra a Covid-19, como o Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, moradores dos EUA estão contraindo dívidas que chegam a casa do milhão após parentes contraírem a doença.

Reportagem de Sarah Kliff, no jornal The New York Times deste sábado (22), revela um caso que um homem acumulou mais de 1 milhão de dólares em dívidas e empréstimos para tratamento do pai, que acabou morrendo em decorrência da Covid-19.

"Estadunidenses como ele estão enfrentando a versão financeira prolongada da covid-19: eles viram suas vidas e finanças prejudicadas por contas médicas resultantes de uma batalha contra o vírus", diz a reportagem (leia aqui na íntegra, em inglês).

Segundo a jornalista, moradores dos EUA com outras doenças graves já enfrentam contas exorbitantes e "confusas" após o tratamento e para agravar a situação, no caso de pacientes com coronavírus, muitos grandes planos de saúde escreveram regras especiais, dispensando copagamentos e franquias para internações por coronavírus.

"Entrevistas com mais de uma dúzia de pacientes sugerem que esses esforços foram insuficientes. Alguns com seguro privado estão arcando com os custos de seus tratamentos contra o coronavírus, e as contas podem chegar a dezenas de milhares de dólares", afirma.

Aos 33 anos, a professora Lauren Lueder, de Detroit, já gastou 7 mil dólares com o tratamento da Covid-19. “Você acaba com uma bateria de testes e as coisas vão se somando. Não tenho renda disponível para pagar constantemente por isso", disse.

"Pacientes com coronavírus enfrentam custos diretos significativos: o dinheiro retirado de contas de poupança e aposentadoria para pagar médicos e hospitais. Muitos também estão lutando com custos indiretos, como as horas gastas ligando para provedores e seguradoras para saber o que é realmente devido e a tensão mental de se preocupar com como pagar", diz a jornalista, que pesquisou por 10 meses mais de 800 contas médicas enviadas por leitores ao jornal.

50 mil dólares
Um dos casos é o de Rebecca Gale, de 64 anos, que perdeu o marido, Michael, para o coronavírus no ano passado e pagou apenas uma pequena parte da conta de US$ 50.009 da ambulância aérea para seu transporte entre hospitais quando sua condição estava piorando.

“Choro todos os dias; isso é apenas mais uma coisa que parte meu coração, que além de perder meu marido, eu tenho de lidar com isso", disse Gale.

O plano de seguro saúde da família limita sua cobertura de ambulâncias aéreas a US$ 10 mil, e a empresa de ambulância aérea passou meses buscando um adicional de US$ 40.009 da propriedade de seu marido.