Nise Yamaguchi contradiz presidente da Anvisa e Mandetta e diz que não produziu nova "bula da cloroquina"

Médica negou que houve tentativa de mudança de bula e diz que o médico bolsonarista Luciano Azevedo foi quem trabalhou na "minuta"

Reprodução/TV Senado
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Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta terça-feira (1º), a médica Nise Yamaguchi negou que tenha apresentado uma minuta de decreto propondo a mudança da bula da cloroquina para que o medicamento fosse recomendado para tratar pacientes com a doença. Ela negou, inclusive, a existência da proposta de mudança.

Antes de questionar a médica sobre a minuta, o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), apresentou um vídeo do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em que ele acusa Yamaguchi de ter sido a responsável pela proposta. Em depoimento à CPI, o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, também acusou a médica do mesmo feito.

"Eu não fiz nenhuma minuta, inclusive eu não conhecia esse papel. Essa reunião que ele se refere, que ocorreu no Palácio do Planalto, com presença do Almirante Barras, do ministro Mandetta, estava bastante cheia a sala, eu não conhecia as pessoas que estavam", iniciou a médica.

Em seguida, ela afirmou que lhe foi solicitado na reunião para falar sobre a diretriz do Ministério da Saúde que recomendava a hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19. "Depois da reunião eu descobri que eles estavam falando sobre uma minuta, e que essa minuta ela jamais falava de bula, falava sobre a possibilidade de haver uma disponibilização de medicamento...", continuou Nise, sendo interrompida por seu advogado.

"O que estava sendo discutido era o medicamento, não a inserção da bula. Inclusive, que essa adesão ao tratamento do medicamento deveria ser acordada entre médico e paciente que desejarem por livre e espontânea vontade fazerem parte", prosseguiu a médica.

Nise Yamaguchi então afirmou que o tenente-médico Luciano Dias Azevedo foi o responsável por ter trabalhado na "minuta" que estava em discussão na reunião, que tratava sobre a distribuição de cloroquina. Ela afirmou que pediu o documento ao fim da reunião, mas repetiu que não havia nada sobre mudança na bula.

Azevedo participou do encontro de médicos bolsonaristas “Brasil Vencendo a Covid-19”, no Palácio do Planalto, no dia 24 de abril do ano passado. O grupo entregou uma carta ao presidente Jair Bolsonaro defendendo o chamado “tratamento precoce” contra a Covid-19, o que envolve o uso de cloroquina e outros medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença. Na ocasião, o tenente discursou em defesa da cloroquina.