Luís Miranda diz que recebeu proposta de propina de Ricardo Barros para não atrapalhar compra de Covaxin

O deputado teria participado de duas reuniões, a segunda, inclusive, com a presença do líder do governo Bolsonaro na Câmara, na qual teria recebido a proposta para ganhar 1,2 milhão de dólares

O deputado Luis Miranda - Foto: Reprodução
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As denúncias de propina contra o governo de Jair Bolsonaro não param. O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) foi chamado para duas reuniões, nas quais recebeu oferta de propina milionária para parar de atrapalhar a compra da Covaxin pelo Ministério da Saúde, de acordo com reportagem de Patrik Camporez, no Crusoé.

Segundo a matéria, no dia 31 de março, ou seja, 11 dias depois de ter se reunido com Bolsonaro, junto com seu irmão, Luis Ricardo Miranda, para alertar o presidente dos indícios de irregularidades no processo de aquisição da vacina indiana, Luis Miranda foi convidado por um conhecido lobista de Brasília para participar de uma reunião em uma mansão no Lago Sul, em Brasília.

Figura conhecida da Polícia Federal (PF) por envolvimento em esquemas de corrupção e homem de confiança do líder do governo Bolsonaro, Ricardo Barros (PP-PR), Silvio Assis queria conversar pessoalmente com Miranda, que aceitou o convite.

Assis teria dito que nada poderia dar errado na compra da Covaxin e tentou fazer de Miranda aliado. Pediu para o deputado interceder junto ao irmão do Ministério da Saúde, para que ele não criasse problemas para o negócio.

Em certo momento, afirmou que Miranda poderia ser recompensado, caso aceitasse ajudar. Sem mencionar valores, afirmou que, se tudo desse certo, a reeleição do parlamentar estaria garantida. O deputado saiu da reunião sem que a conversa avançasse.

Em maio, pouco mais de um mês depois da primeira reunião, ocorreu novo encontro, no mesmo local. Desta vez, Silvio Assis estava com o próprio Ricardo Barros.

Valores

O tema foi o mesmo. A certa altura, Assis, que demonstrava falar em nome da Precisa Medicamentos, a empresa brasileira intermediária do negócio da Covaxin com o Ministério da Saúde, disse a Luis Miranda que ele poderia ser muito bem recompensado caso aderisse ao acerto.

Desta vez, a conversa envolveu valores. Assis, em nome de Barros, teria prometido a Luis Miranda uma participação sobre cada dose da vacina vendida ao Ministério da Saúde: 6 centavos de dólar. Caso aceitasse, poderia ganhar 1,2 milhão de dólares, o equivalente a 6 milhões de reais.

Voz de prisão

O deputado afirma que, nos dois encontros, rejeitou com veemência a proposta do lobista amigo e Barros. Disse, inclusive, que, em uma das oportunidades, teria ameaçado dar voz de prisão a Silvio Assis.

O parlamentar afirmou não crer que a oferta de propina que recebeu tenha alguma relação com a conversa que teve, dias antes, com Bolsonaro para alertar sobre irregularidades no processo de compra da vacina.

Miranda teria relatado à Crusoé que não quer se manifestar a respeito dessas conversas com o lobista e o líder do governo. Ele destacou, ainda, que prefere falar para a Polícia Federal, caso seja chamado.