Jornal Nacional: mensagens mostram relação de Bolsonaro com negociata de vacinas

De acordo com a reportagem do telejornal da Rede Globo, “o elo entre o grupo e o presidente seria o reverendo Amilton Gomes de Paula, que foi convocado a depor”

O reverendo Amilton de Paula – Foto: Reprodução/TV Globo
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O Jornal Nacional desta terça-feira (13) revelou mensagens obtidas no celular do policial Luiz Paulo Dominghetti, que apresentam indícios de que o grupo ao qual o cabo faz parte procurou Jair Bolsonaro para tratar da compra de vacinas AstraZeneca, por meio da Davati.

De acordo com a reportagem do telejornal da Rede Globo, “o elo entre o grupo e o presidente seria o reverendo Amilton Gomes de Paula, que foi convocado a depor na CPI da Covid. O depoimento estava marcado para quarta-feira (14), mas ele apresentou um atestado médico que o impede de depor por 15 dias. Nesta terça-feira (13), uma junta médica do Senado foi até a casa do reverendo para fazer uma perícia e confirmou os problemas de saúde".

O reverendo virou alvo das CPI, depois da revelação de que uma entidade comandada por ele teria participado de negociações de vacinas com o Ministério da Saúde.

A comissão, ainda segundo o JN, considera ter indícios suficientes para comprovar a atuação do reverendo na interlocução entre a Davati e o Ministério da Saúde. Agora, a CPI deseja apurar os possíveis laços do religioso com o Palácio do Planalto.

Os senadores querem que De Paula explique conversas que indicam que Bolsonaro teria sido procurado pelo grupo.

Uma das mensagens mostra diálogo entre Dominghetti e Cristiano Carvalho, CEO da Davati no Brasil. No dia 13 de março, o policial encaminhou uma mensagem a Carvalho:

“Estão viabilizando sua agenda com presidente”. Ele respondeu: “Dominghetti, por favor, verifica para mim se o presidente vai atender hoje ou amanhã ou até na terça, porque aí eu preciso mudar o voo e preciso reservar o hotel, ‘tá’ bom? Obrigado”.

O cabo respondeu: “Já estão trabalhando para agendar. Me falaram que estão esperando uma resposta do Palácio”.

Cobrado novamente sobre a marcação, Dominghetti afirmou: “O que eles me falaram, eu nem sabia que ia ter agenda com o Bolsonaro, você que me falou. O que eles me falaram é assim, que estão atuando fortemente lá, e agora depende é do presidente. Ele não marca agenda, ele fala assim: ‘Vem aqui agora’, né? Então, assim, de uma forma mais urgente. Agora, para falar com ele em agenda, eles conseguem marcar segunda, terça, quarta, que aí entra na agenda oficial. O que eles estão tentando é que o presidente te receba de forma extraoficial, entendeu? Devido à urgência, é o que eles estão tentando. Agora, a agenda oficial eles conseguem marcar, isso aí... O que eles estão tentando correndo é uma agenda extraoficial”.

Mais tarde, Carvalho enviou um áudio: “Dominghetti, agora nós precisamos aí... O reverendo está falando que está marcando um café da manhã com o presidente amanhã, às 10h, 9h, sei lá, que vai ter um café com os líderes religiosos e a gente vai entrar no vácuo, ‘tá’? Agora tem que fazê-lo confirmar isso aí para a gente colocar uma pulguinha atrás da orelha do presidente, ‘tá’?”

Dominghetti respondeu: “Isso mesmo”.

No fim do dia, O CEO da Davati reclamou: “Reverendo me fez ficar aqui e até agora não confirmou o café da manhã com o presidente”.

Dominghetti disse: “Ele está aguardando a resposta do cerimonial com presidente”.

O Jornal Nacional relatou que não registro de encontro do presidente com líderes religiosos no dia seguinte, mas dois dias depois.

Em 15 de março, Bolsonaro recebeu no Palácio do Planalto líderes religiosos para um encontro de duas horas. O nome do reverendo não consta dos participantes do evento.

No mesmo dia, às 17h, Dominghetti perguntou a um auxiliar de De Paula: “Como foi a visita do reverendo ao 01?”. A resposta foi: “O reverendo nesse momento está com o 01”.

Indagado por Dominghetti, De Paula disse: “Ontem falei com quem manda! Tudo certo! Estão fazendo uma corrida compliance da informação da grande quantidade de vacinas!”.

No mesmo dia, outras duas pessoas ligadas ao reverendo citam a possível reunião dele com o presidente.

O Jornal Nacional entrevistou De Paula, por telefone. Ele negou que tenha conversado sobre vacinas com Bolsonaro. Porém, não soube explicar a quem se referia ao falar que falou “com quem manda”.

Amilton: “Mas não, eu não estava na reunião, eu não compareci. A informação que me passaram é que haveria de desmarcar essa reunião de líderes por compromisso em uma Igreja Católica e ia rezar. Não houve”.

Repórter: E o senhor, o senhor mandou essa mensagem no dia seguinte para o Dominghetti dizendo: “Ontem conversei com quem manda”. Quem que seria?

Amilton: Bom, conversei com quem manda, a gente pode ter assim várias ideias de que quem manda, né? Quem manda, é quem está na frente, a gente conversa, quem manda é quem está na direção, né?

Repórter: Quem era nesse caso?

Amilton: Bom, eram, várias, várias situações. Várias situações, a gente, eram uma pessoa assim que a gente não pode direcionar para de fato ter uma resposta concreta nessa questão.

Repórter: O senhor não lembra quem era, por que quando coloca para o Dominghetti nessa mensagem?

Amilton: Não, eu não, quem manda tem que ver, né? Várias, o dia que fosse, a hora que fosse. Ele fica passando muita coisa, fica atendendo vocês e, assim, fico sem uma resposta.